Um dia um tanto quanto tumultuado. Aeroportos lotados, vôos atrasados, falta de vagas nos estacionamentos, táxis já ocupados, filas para o check in, poluição visual dos cartazes com os nomes dos recém chegados, uma bagunça generalizada. Nas rodovias engarrafamentos, carros quebrados, retornos que nunca aparecem, comandos desanimadores e como sempre a fila do lado andando mais do que a nossa. Nos terminais, ônibus chegando a cada quinze minutos, uma confusão de malas iguais gerando troca de bagagens, o medo das filhas atravessarem no farol vermelho numa cidade desconhecida e movimentada. Nos portos a preocupação dos navios balançarem muito, a espera da liberação para o embarque, a decepção por lembrar-se de ter esquecido o remédio contra enjôo e toda aquela demora... As horas passam, todos chegam a seus destinos. Encontram-se com os familiares ou com os amigos ou mesmo seja uma viajem romântica a dois. Na verdade não importa. Quando colocam suas malas no chão de seu apartamento, casa, quarto ou cabine, outro fator que tanto faz, parece que tudo o que aconteceu há horas atrás não teve importância. É melhor deixar pra lá mesmo, afinal é o último dia do ano, para que se estressar? Consequentemente chega a hora de se arrumar. Outros problemas. O homem irrita-se porque o botão de sua camisa nova caiu e não veio um extra, a mulher porque o secador do hotel não é tão bom quanto o seu que ficou em casa, as crianças porque querem ir brincar e ninguém as ouve. A tarraxa do brinco some, o cinto por algum motivo do outro mundo não fecha, o salto quebra, o queridinho da família derruba suco de uva na blusa que a vovó deu de presente. Tudo o que não poderia acontecer no último dia do ano acontece, mas num lapso de esforço para manter a calma tudo se ajeita. Lapso BEM raro entre nós humanos. O botão na verdade estava no fundo da mala, a mãe trouxe uma blusa extra, ela sempre traz, e as outras coisas se dão um jeito, afinal em último caso tem sempre um supermercado aberto para nos salvar. Todo mundo já está pronto para o grande momento. O momento de fazer preces, independentemente de qual seja o seu Deus, de usar a fitinha colorida na calcinha para dar sorte e todas as superstições que você acreditar, seja na cor da roupa ou em algo que se baseie no horóscopo chinês. E a meia noite, os fogos. O mundo por um segundo para. Abraços, beijos, boas vibrações, choros, pulos de sete ondas, rolhas voando, brindes, frases e juras de amor eterno, saudade daqueles que estão longe, telefonemas... E sms agora nesse mundo que se acha moderno e é tão careta que continua com as frases melosas de mil oitocentos e bolinhas como: eu sempre vou te amar, o meu coração é seu, eu vou te esperar e aquelas que todos nós conhecemos. E, de verdade, pela primeira vez em 365 dias tudo é esquecido novamente. Tudo é paz e o branco prevalece pelas ruas. É um novo ano, para muitos um novo começo. Novas metas, desejos, oportunidades, amores, uma nova força. Como a chegada de um novo ano pode apagar tantas coisas ruins. Mas seria bom mesmo que a chegada que cada novo dia tivesse o mesmo efeito.
Giovanna Malavolta