23 de janeiro de 2010

XVIII - IMENSIDÃO


   Pessoas vazias. Olhos vazios. Corações vazios. Mentes vazias. Expressões vazias. Discursos vazios. Sentimentos vazios. Abraços e beijos vazios. Máscaras preenchidas e feitas de todo esse vazio. Máscaras que expressam felicidade contínua, inteligência avançada, amores imortais, textos e textos convincentes. Máscaras que eles, os homens, já não sabem mais como viver sem. Animais irracionais em quase todas as questões que enchem o peito ao dizer que estão no topo da cadeia alimentar. Contudo percebe-se que não conseguem ao menos proteger-se da própria natureza através de seu arsenal de dependências tecnológicas. Como seres tão dependentes podem ser superiores? Duplas personalidades. Duplos sentimentos. Duplas razões e percepções. Gostava mais deles quando acontecia ou melhor, era possível sentir realmente saudade de alguém. E as cartas eram comuns. Mais ainda quando a palavra urgente possuia um significado real, porque atualmente ela é indiferente. Tudo a nossa volta é urgente, isso quando na verdade não era pra ontem. Gostava mais quando podíamos amar. Até mesmo o mar sente falta de nossa sinceridade e de nossas reflexões com os pés molhados por suas águas. Até mesmo o mar.


Para onde foi a imensidão dos homens?


Giovanna Malavolta

XVII - FITAS


   O que ela considerava como verdadeiros presentes muitas vezes não eram percebidos pelas outras pessoas, ou considerados. Num tempo não tão tão distante ela começou a perceber que ganhara um presente. Um que talvez ou mesmo provavelmente levaria consigo por toda vida. Um que os amigos que diziam para ela testar e o chamavam de dom. Um que ela admirava naquelas pilhas de livros em que ia para diferentes mundos e sensações. Mas ela possuia receio... E se não gostasse do que fizesse? E pior, se os decepcionasse? Ela não conhecia algo sobre o assunto e também não era algo que pudesse aprender em algum curso. Começou então a colocá-lo em prática, e os poucos, na verdade três, que nesse início tiveram contato com o presente elogiaram. Começou a perceber que era como um jogo, praticando ela se aperfeiçoaria. E então ela foi ganhando mais e mais presentes. Presentes que juntos formavam uma palavra: incentivo. Mal sabiam eles que ela sentia um frio na barriga a cada novo elogio, a cada nova crítica, boa ou ruim, que chegava a transpirar por saber que alguém agora lia seus textos. Ela foi perdendo o medo de se expressar através das letras. Foi deixando que as palavras fluíssem pelo papel sem se preocupar demais. Passou a acreditar em si mesma, porém isso não era um sinônimo de que já aprendera tudo. E os presentes foram se multiplicando, e as fitas dos embrulhos também. Ela guardava as fitas que envolviam todos aqueles presentes em forma de palavras. Ela envolvia e decorava seus textos com elas. Fitas que não eram feitas de pano, mas de amizade e cooperação. Fitas que ela transformava em palavras. Fitas que estavam presentes nas entrelinhas e só eram percebidas por aqueles que um dia as deram de presente para Ela. Fitas que ela guardaria para sempre


Giovanna Malavolta 

22 de janeiro de 2010

XVI - DOCES



   Existem centenas, caso não existam milhares ou milhões numa pequena hipérbole, tipos de sorrisos. Assim como existem os choros de crocodilo e os de desespero, mas o foco nesse instante são os sorrisos. Existe aquele meio sorriso usado para disfarçar a felicidade proibida, indevida ou as segundas, terceiras e todas as intenções presentes no ar. Existe o sorriso tímido, em que os dentes mal aparecem e muitas vezes os lábios não se desgrudam, aquele que costumamos dar aos elogios inesperados. Existe o sorriso torto, esse é o típico galanteador acompanhado pelo piscar de um só olho. Existe o sorriso de orelha a orelha, esse é o dos apaixonados, dos bêbados, dos de bem com a vida em geral, sóbrios ou não. Existem as gargalhadas, descendentes das piadas que todo mundo já decorou. Existem tantos tipos de sorriso que nem ao menos paramos para pensar. E mal reparamos nos mais singelos. Mas o bom mesmo é sorrir, não importa seu tipo de sorriso, ( temos os amarelos, os colgate, os faltando algum(s) dente(s), os metálicos, conhecidos também como pára-raios, e o que você possuir em particular ) ou o seu jeito de sorrir. Dê uma pitada de açúcar ao seu dia com esse doce que todos nós podemos possuir. Não possui contra indicações pelo Ministério da Saúde, não engorda, na realidade emagrece e retarda o aparecimento de rugas. Notou, temos até explicações científicas para comprovar a importância  de usar a escova de dentes. A tampinha da pasta de dente normalmente cai no ralinho da pia mas paciência. Reclamar é muito simples, mas sorrir é mais ainda. Agora pense... Quantas vezes você bufou hoje? Ou revirou os olhos?


Quantas vezes você sorriu sinceramente
Giovanna Malavolta 






10 de janeiro de 2010

MÚSICA ♫




Taylor Swift - Fifteen



It's the morning of your very first day
You say hi to your friends you ain't seen in a while
Try and stay out of everybody's way
It's your freshman year and you're gonna be here
For the next four years in this town
Hoping one of those senior boys will wink at you and say
"You know I haven't seen you around before"

'Cause when you're fifteen and
Somebody tells you they love you
You're gonna believe them
And when you're fifteen feeling like
There's nothing to figure out
But count to ten, take it in
This is life before you know who you're gonna be
Fifteen

You sit in a class next to a redhead named Abgail
And soon enough you're best friends
Laughing at the other girls
Who think they're so cool
We'll be out of here as soon as we can
And then you're on your very first date
And he's got a car and you're feeling like flying
And your mom is waiting up and you're thinking he's the one
And you're dancing 'round your room when the night ends
When the night ends

'Cause when you're fifteen and
Somebody tells you they love you
You're gonna believe them
When you're fifteen and your first kiss makes you head spin 'round but
In your life you'll do things greater than dating the boy on the football team
I didn't know it at fifteen

When all you wanted
Was to be wanted
Wish you could go back
And tell yourself what you know now

Back then I swore I was gonna marry him someday
But I realized some bigger dreams of mine
And Abigail gave everything she had to a boy who changed his mind
We both cried

'Cause when you're fifteen and somebody tells you they love you
You're gonna believe them
And when you're fifteen, don't forget to look before you fall
I've found time can heal most anything
And you just might find who you're supposed to be
I didn't know who I was supposed to be
At fifteen

la la la la la la
Your very first day

Take a deep breath, girl
Take a deep breath as you walk through the doors.


>>> SITE: http://www.taylorswift.com/

8 de janeiro de 2010

XV - QUINZE ANOS



Idade mágica. Idade de crises. Idade de transições. Idade de planos. Idade de mudanças mentais e corporais. Idade de começar a pensar no vestibular. Idade de festas com vestidos longos e quinze casais. Idade de espinhas. Idade de viajar. Idade de fazer dietas loucas para entrar naquele vestido. Idade de refletir. Idade de fugir. Idade de acreditar que já se sabe de tudo. Idade de rir sem se preocupar porquê. Idade de sonhar. Idade de "pior do que sonhar", realmente acreditar no que se sonha. Acreditar que é com aquele menino que sorriu para você e iluminou todo o seu redor que iremos casar. Acreditar que a profissão que escolhemos hoje será com certeza aquela que vamos cursar. Acreditar realmente que chegou o dia tão sonhado e a idade tão invejada nas meninas mais velhas que achavam-se as adultas. Acreditar, inutilmente, que já somos donas de nosso próprio nariz. Acreditar que os quinze anos são para sempre. Acreditar que já não precisamos de alguém. Acreditar que nunca mais iremos amar outra pessoa e que a nossa vida que mal começara acabou. O tempo passa, percebemos que sim, é uma idade maravilhosa. Mas as responsabilidades chegam e o ensino médio também. Perda de amigos e mais um monte deles aparecendo todos os dias. Os professores avisando para irmos com calma com o hormônios que estão mais do que a flor da pele. Os pais preocupados com o amadurecimento das filhas. As mães com os novos namorados. As meninas de quinze anos começando a perceber que o tempo passa e com ele passa a dor. Nós, preocupadas apenas se alguém realmente irá nos amar, para as românticas incorrigíveis, se já estamos estudando o bastante para passar numa universidade pública para as desesperadas e se o tempo irá parar, para as sonhadoras. Passa-se um pouco mais de tempo e também começamos a notar que essa tal idade não é eterna. Que existem sonhos maiores do que aqueles em que construíamos nossas bases. Que melhores amigos vêm e vão.  Que existem outros príncipes encantados, ou vampiros na nova moda. As bexigas que não foram estouradas, murcharam. Agora está ainda mais perto de tudo aquilo que se preocupavam aos quinze. Aos poucos quinze. E quando se dá conta aquela festa acabou e você está assoprando as velas dos dezesseis.


Giovanna Malavolta

7 de janeiro de 2010

?


5 de janeiro de 2010

XIV - SIGNIFICADOS


   O vento gélido, uma noite abafada, as gotas caindo do céu. Estas ao baterem em seu telhado pareciam em seu humilde som uma canção de ninar. Faziam sua mente relaxar e se perder em pensamentos. Faziam com que ela viajasse por diversos lugares e navegasse nos mares da imaginação. Formavam uma sinfonia que passava-se despercebida aos desatentos ou aos que nomeassem toda essa manifestação poética da natureza de: chuva ! Ela gostava daquelas gotas, quase um pouco mais do que os raios do sol. Para ela, aquilo fazia parte de um ciclo e trazia, mesmo que fosse somente para si, paz. Entretanto a palavra chuva, de acordo com o dicionário ao procurar significava: 1. Água que cai das nuvens. 2. Fig. Abundância (do que sobrevém) Não entendeu tal explicação. Não conseguia acompanhar a urgência das pessoas em saberem tantas palavras sem saber realmente como usá-las. Mas para ela caracterizaria  a tão mal compreendida chuva como ideias que caem das nuvens e abundância de sonhos. Amava os banhos de chuva, explorados nos filmes através de cenas de romance. Sentia-se purificada. Sentia-se preenchida. Concluiu que o tão conhecido pai dos burros merecia tal nome, afinal ele não entendia nem um pouco de significados sentimentais


Giovanna Malavolta

XIII – QUÍMICA


Era uma quinta-feira. O dia estava frio ao amanhecer. Ela acordou, admite que com um pouco de preguiça mas estava inspirada. Resolvera que iria arrumada para mais um dia de sua rotina imprevisível. Mas antes de levantar da cama lembrou-se dele. Suspirou e sorriu com a alma. Depois disso repassou todas as informações que estudara na noite anterior. Afinal, hoje ela possuiria prova de química. Trocou-se, fora para a escola. O viu passar e aquilo lhe encheu o peito de alegria, mas ele não a viu. Não importava, ela o tinha visto mesmo que de longe, rapidamente, e isso bastava para valer seu dia. Passaram-se as aulas, ele permanecia em seu pensamento. O céu estava azul, esquentara. No intervalo ela ligou para ele, cheia de amor e paixão fechou os olhos ao ouvir sua voz. Ele não a tratou como o de costume, foi seco. Assustou-a sua reação, sua voz. Era tão comum se falarem no intervalo de suas aulas, um esperava a ligação do outro. Coisas típicas de casais apaixonados. Dessa vez ele mostrou-se ocupado e sem poder dar atenção a ela. Chateou-se, ele não era assim. A próxima aula ela teria a prova de química, na verdade um laboratório. Ela ficou emburrada. Chamaram, ela foi azeda sem perceber. Será que ele sabia que possuía o poder de deixá-la assim? Será que ele sabia que nem mesmo ela, a dona daquele sentimento imenso de saudade, conseguia explicar o que sentia? Recebeu as folhas e leu-as. Ela era a encarregada de fazer os cálculos, o resto do grupo de fazer os experimentos. Concentrou-se como o de costume e não percebeu uma presença a mais naquele laboratório. Ele desceu as escadas pela janela a sua frente e ela não o vira. Todos o viram, menos ela. Estava imersa em seus pensamentos. Ouviu a voz dele. Não olhou, sentiu um frio na barriga, arrepiou-se, não podia ser. Notou que todos pararam. Ela simplesmente colocou as mãos no rosto, ainda sem olhar. Sentiu o perfume dele, sim ele estava ali. Ao olhar notou que ele estava com flores. Rosas. Duas brancas e uma cor-de-rosa. Ele disse que estava à procura da menina mais bonita e pediu para que o ajudassem a encontrá-la. Ela se levantou e ficou a frente dele com as mãos e pernas trêmulas. Percebera que ele também tremia. Olhou-o nos olhos, eles brilhavam. Os dela estavam perdidos, só conseguiam enxergar o amor que aparecia em sua frente. Ao fundo ouviu aplausos. Todos aplaudiam, as professoras impressionaram-se. Os meninos o acharam corajoso, as meninas, romântico. Já ela via nele tudo por aquilo que procurava, mas não esperava encontrar. Via nele o amor. Descobrira que naquele dia fizera mais de que um laboratório de química. Fizera um laboratório da vida. E o mais importante dela, o do amor. Se ela fosse o experimento naquele momento diria que as reações que aconteceram dentro de si não eram explicáveis pela química. Ela naquele momento parou de respirar. Ele a abraçou. Naquele instante descobriu que “para sempre”, “eu te amo”, “amor”, “paz”, “paixão” não eram nada comparado àquilo que ela sentiu. Absolutamente Nada


Giovanna Malavolta 


>> Baseado em fatos e dedicado a Tiago Gola Pedro . (:

MÚSICA ♫





Ana Cañas - Super Mulher 
Olha, ela fala, ela canta, ela grita, ela zanza
Ela tem aquela transa
Que eu não digo com quem é
Ela tem o rebolado
Tem o corpo tatuado
De uma figa da Guiné

Ela tem uma coleção
De animais bem perigosos
De animais muito orgulhosos
Lá da Arca de Noé
Ela tem uma pantera
Que ela arrasta na coleira
Ela gosta dessa fera
Porque é grande feiticeira
E seduz os corações

Super-Mulher
Super-Mulher
É de capa voadora
Domadora de Leões .

XII - OLHO MÁGICO


A campainha tocou. Ela correu até a entrada, olhou por aquele singelo buraco na porta. Estremeceu.


O que seria algo suspenso? Na concepção daqueles olhos azuis era aquilo que não está em ação, mas está ausente. Talvez esquecido, deixado de lado, porém presente, persistente.



XI - CAIXA


   Ela descobriu. Descobriu a importância dos amigos e do amor. Como este pode ser vital tanto quanto aqueles. Como cada sorriso deveria ser guardado na memória como um presente raro. Assim como em cada abraço ela não deveria ser a primeira a soltar.  Como cada beijo deveria ser desfrutado com o frio na barriga do primeiro e com a falta de ar do último. Descobriu tantas coisas que nem sabia ao certo se conseguiria listar. Descobriu que algumas pessoas que agora estavam longe, pela distância ou por novos caminhos, faziam uma falta insubstituível. Uma falta que nem mesmo os telefonemas e cartas conseguiam suprir. Descobriu também que muitas das pessoas que estavam perto se tornaram muito próximas. Mais próximas do que ela poderia imaginar. Tornaram-se amigas em quem ela podia confiar. Descobriu também que certas coisas ela deveria simplesmente ignorar, pois vinham de pessoas que não a conheciam. Descobriu que situações coagidas são comuns e precisa-se ter cuidado. Descobriu que para si amar é o sentimento mais apreciável que existe. Descobriu que Ele era quem Ela amava. Descobriu que amadureceu em muitas questões num ano que mal viu passar. Descobriu que ainda tinha muito a amadurecer. Descobriu infinitas coisas ao refletir por apenas um instante. Tudo isso estava dentro de uma caixa que há algum tempo ela não abria. Uma caixa em que cabem todas as coisas do mundo. Uma caixa chamada coração.


Giovanna Malavolta

X - ALGEMAS




Ela queria inovar.


     O que mais a fascinava era a liberdade, esse sentimento, substantivo meio que totalmente abstrato a hipnotizava. Contudo ela não era livre e estava prestes a descobrir a razão. Ela estava presa ao passado. Presa pelas correntes das lembranças e esse tipo de prisão é a pior pela qual sua alma poderia passar.


Liberdade ela só conseguiria quando encontrasse as chaves para o aprendizado e o esquecimento.


Giovanna Malavolta 

MÚSICA ♫



Vai de Madureira - Zeca Baleiro


Se não tem água Perrier eu não vou me aperrear 
Se tiver o que comer não precisa caviar
Se faltar molho rose no dendê vou me acabar
Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar

Esquece Ilhas Caiman deposita em Paquetá
Se não pinta um Cordon Bleu, cabidela e vatapá
Quem não tem Las Vegas, vai no bingo de Irajá
Quem não tem Beverly Hills, mora no BNH

Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira

Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do terceiro andar
Se não rola aquele almoço no Fasano
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá 



Se não tem água Perrier
Se tiver o que comer
Se faltar molho rose
Se não tem Moet Chandon, cachaça vai apanhar !



Quem não pode, quem não pode
Nova York vai de Madureira


Se não tem Empório Armani
Não importa vou na Creuza costureira do terceiro andar
Se não rola aquele almoço no Antiquarius
Vou na vila, vou comer a feijoada da Zilá 


Só ponho Reebok no meu samba
Quando a sola do meu Bamba chegar ao fim !



>>>>> SITE: http://www2.uol.com.br/zecabaleiro/ 

4 de janeiro de 2010

IX – PERSISTÊNCIA


   Ele a amava mais do que tudo em sua vida. Nela, ele encontrava tudo aquilo que sonhara e, puramente, o que precisava: paz. Os momentos em sua memória eram inesquecíveis, os bons pela felicidade espontânea que ela trazia-lhe. Os ruins pela superação e a prova daquele amor. O instante mais especial em sua vida fora em abril. Num ano não muito distante, em abril ele encontrou a sua princesa. Entretanto, nesses tempos de hoje, ele sentiu medo. Um sentimento que antes ao lado dela ele não conhecia. Algo pesava. Muito. A seu parecer o mundo estava em suas costas e todas as suas razões por existir. Era como se ele fosse responsável por toda aquela fonte de vida. Em sua percepção Ela era o mundo. E a conexão entre eles, a fonte de vida. De repente sentiu frio. Não era por conta do vento gelado, era dentro dele. Como se tudo aquilo pelo o que lutava todos os dias estivesse congelando. Ele de maneira alguma queria aquilo. Ele lutaria, só não sabia ao certo se ela também.


Giovanna Malavolta

VIII - ESSÊNCIA


   Ela já não sabia mais. Naquele lugar tudo era tão bom, mágico. Era a parte de seu mundo irreal em sua realidade. Era o lugar onde a melancolia apenas surgia quando estava nas músicas e nas falas. Era uma tensão saudável, a maturidade, a responsabilidade. Era o espaço em que ela podia ser o que não era. Em que podia fingir e onde as paredes não indicavam limites, ao menos para sua mente. E simultaneamente, era o lugar em que podia ser ela mesma sem censuras. Um plano onde todos se entendiam, ou talvez não. Na verdade, talvez fosse um dos poucos equívocos em que os participantes ainda verdadeiramente se respeitavam. As pessoas daquele curioso lugar traziam para ela apenas o bem, mas Ele trazia um bem que ela desconhecia há algum tempo. No palco ela descobriu que não existe certo número de melhores amigos e aqueles que nos falta afinidade podem se tornar grandes aliados. Lá de cima, sentada no terraço ela via a cidade se acender e todas as luzes. Sabia que abaixo o clima estava a contagiar. O silêncio falava, as músicas calavam e toda a farsa encantava. Aquilo para ela era a essência da vida, da sua pequena e vasta vida. Era uma das razões de tudo. Era a razão e ela não a trocaria por algo. Mas havia uma contradição nisso porque talvez, mesmo sem ela perceber, existissem outras razões.


Giovanna Malavolta

VII - QUESTÕES


Perguntaram-na certa vez o porquê do brilho constante nos olhos.
Perguntaram-na um dia o porquê do riso sem sentido.
Perguntaram-na tempo atrás o porquê do silêncio.
Perguntaram-na num ontem distante o porquê da seriedade.
Perguntaram-na no passado o porquê da partida dos sonhos.
Perguntaram-na num instante o porquê da confiança ausente.
Perguntaram-na em alguma hora o porquê da importância da dança.
Perguntaram-na momentaneamente o porquê de tudo.
Perguntaram-na há cinco meses o porquê da volta daquilo que se fora.
Perguntaram-na nestes tempos o porquê da falta de ar.


Hoje perguntaram o porquê que ela voltara a sonhar. – Ele.


Giovanna Malavolta

MÚSICA ♫


O reggae - Legião Urbana


Ainda me lembro aos três anos de idade
O meu primeiro contato com as grades
O meu primeiro dia na escola
Como eu senti vontade de ir embora


Fazia tudo que eles quisessem
Acreditava em tudo que eles me dissessem
Me pediram para ter paciência
Falhei
Então gritaram: - Cresça e apareça!


Cresci e apareci e não vi nada
Aprendi o que era certo com a pessoa errada
Assistia ao jornal da TV
E aprendi a roubar pra vencer
Nada era como eu imaginava
Nem as pessoas que eu tanto amava
Mas e daí, se é mesmo assim
Vou ver se tiro o melhor pra mim.


Me ajuda se eu quiser
Me faz o que eu pedir
Não faz o que eu fizer
Mas não me deixe aqui


Ninguém me perguntou se eu estava pronto
E eu fiquei completamente tonto
Procurando descobrir a verdade
No meio das mentiras da cidade
Tentava ver o que existia de errado
Quantas crianças Deus já tinha matado.


Beberam meu sangue e não me deixam viver
Tem o meu destino pronto e não me deixam escolher
Vem falar de liberdade pra depois me prender
Pedem identidade pra depois me bater
Tiram todas minhas armas
Como posso me defender?
Vocês venceram está batalha
Quanto à guerra,
Vamos ver.


>>>>> SITE: http://www.legiaourbana.com.br/

VI - CRENÇAS


   Disseram que ela possuía sorte, ela sorriu, mesmo sem saber o que essa palavra realmente significava. Comentaram para colocar a cama em uma determinada posição em casa de acordo com o feng shui, ela revirou os olhos simpaticamente. . . Afirmaram que ela era bonita, mas e daí se era aparente essa classificação? Quando criança, disseram-lhe para não passar debaixo da escada, e até hoje ela nunca entendeu por que. Avisaram para sempre ter cuidado com os espelhos, porque quebrar um era sinônimo de azar. Mas afinal, que diabos era azar? Nunca deu muita atenção a esses detalhes, chamados por muitos de superstições. Sorte e azar para ela não eram nada mais do que substantivos totalmente abstratos. Mesmo ouvindo a frase: "Freud explica.". Confiava mais em suas intuições e certas coisas ela simplesmente sabia, sem outro possível fundamento. Muitas adivinhava. Dava maior importância ao vento procurando falar ao amanhecer. A seus passos na areia levados pelo mar. Para as infinitas cores de um crepúsculo. Para a melodia da natureza composta pelas árvores e pela vida. E para a composição das estrelas no céu. Compreendia que as coisas só funcionavam se você acreditasse. Sim, ela dava uma importância particular a seus tsurus, mas eles eram feitos com um significado, ao menos para ela. Sentia a harmonia e a grandeza dos pequenos gestos espontâneos. Sabia que olhares e abraços silenciosos diziam exatamente o precisava-se ouvir. E esquecia-se de respirar em seus beijos. Procurava manter seu equilíbrio. E notara que um colo amigo pode afastar tudo e todos por um instante. Ela acreditava em si mesma, e no amor. . De todo o resto, ela só ouvira falar.


Giovanna Malavolta

V - ELES





   Ele, Ela. Ela, Ele. Sua peça era popular, ensaiada por muitos. Mas poucos conseguiam, ao seu fim, aplausos. Tudo muito improvisado, imprevisível assim como ela. Atos e ações inventados na hora, assim como a vida. Decisões metamorfoseadas a cada instante. Surpresas. Já as personagens fixas, como ele. Suas características marcantes imutáveis, assim como seus objetivos. Certezas. Eles conseguiam aplausos de pé, eram mágicos. Diferentemente singulares. Ele saía a procura de seu par por entre as ruas, de porta em porta, e demorou a encontrá-la. Sempre com suas travessuras típicas de um Arlequim, e cenas que transbordavam ciúme nela. Ela com seu amor silencioso e irrevogável. Só possuía olhos para ele. Pierrot chorava. Tentara roubar o coração de Arlequim, tornar-se ele. Mas o mesmo a encontrou. A seus olhos, era uma dama, inteligente e linda. Pierrot tentava de todas as maneiras acabar com aquele amor. Eles eram mais fortes. O brilho no olhar. A correspondência surreal. Pierrot foi ignorado por eles. Ela o aceitou em seu mundo teatral. Ele dera seu coração a ela, uma mera serva. Não, para ele, ela era seu par. Sua colombina.


Giovanna Malavolta

IV - MEDO


   Ela estava com medo. De respirar, e perder o cheiro dele. De dizer adeus, e ser a última vez. De dar um último abraço, e ser o último. De dar o último beijo, e precisar de ao menos mais um. Ela sentia-se perdida, porque só perto dele encontrava-se? Ela não queria dizer isto a ele, afinal, ele sentir-se-ia seguro e deixaria de tentar conquistá-la mais a cada momento. E isso era o que mais a encantava! Ela também lutava para tornarem-se melhor a cada momento, cada gesto, cada carinho. Muitas vezes queria dizer que ele era tão lindo aos olhos dela, mas controlava-se. Às vezes, escapava. Ele possuía uma certeza tão grande nos olhos, que a assustava ainda mais. Como ele podia ser tão seguro? E desse modo alimentar ainda mais seus sonhos com os lírios amarelos pela praia? Lírios e um vestido branco. Ele estava falando a verdade, e ela sentia o mesmo. Ela acreditava. Num futuro distante, e ainda mais no presente. Acreditar já não era um verbo que fazia parte de seu vocabulário, ou dicionário em questões de amor. Medo, medo. Ela de repente sentia uma vontade de chorar, sem saber por quê. O coração apertou, os olhos fecharam-se. A simples ideia de perdê-lo era insuportavelmente trágica e dramática. Isso a fazia rir. Lágrimas misturadas ao riso, realmente nem ela a entendia. A felicidade era tão forte, a necessidade de tê-lo perto de si. O medo voltava. Ele ligou, ao ouvir sua voz, o medo foi embora. O amor não era algo que se poderia entender.


Giovanna Malavolta

MÚSICA ♫


O que se perde enquanto os olhos piscam - O Teatro Mágico


Pronde vai?
Toda tampa de caneta?
todo recibo de estacionamento?
todo documento original?
Isqueiro, caderneta,
a camiseta com aquele sinal...
Pronde vai... toda palheta?
Pronde foi... todo nosso carnaval?
Pronde vai?
Todo abridor de lata?
Toda carteira de habilitação?
Recado não dado, centavo, cadeado?
Todo guarda-chuva!
Pra fuga pro temporal!
Pronde vai... o achado, o perdido?
eu não sei, veja bem...
não me leve a mal...
Pronde vai?
todo outro pé de meia,
carteira, brinco e aparelho dental?
pronde vai... toda diadema?
recibo, receita e o nosso enredo inicial?
Pronde vai?
toalha de acampamento,
presilha, grampo, batom de cacau
elástico de cabelo
lápis, óculos, clips, lente de contato?
a nossa má memória!
a denúncia no jornal?
pronde vai... aliança, chaveiro, chave, chinelo?
e o controle pra trocar canal
Pronde vai?
O solo que não foi escrito?
Labareda nesse labirinto,
o instinto, o reflexo, sem seguro
O coro do Socorro! O lançamento oficial!
Pronde vai... a culpa da cópia?
Pronde foi... a versão original!?
Pronde vai?
a bala que se disparô?
o indício da gripe que disseminou
a culpa no porco no bicho animal?
a firmação do pulso! O discurso radical!
o troco em moeda... a lição da queda
Pronde foi... nosso humor e moral?
Pronde vai? todo nosso desalento
toda brisa vem de um vendaval
pronde vai a reza cortada por sono
ela vale? Me fale... me de um sinal!


São longuinho
Me fale me de um sinal!

Pra onde foi?
O canhoto, benjamim de tomada
Passaporte, n. de telefone, certidão,
registro com foto, simpleza, prudência, clareza... consideração!
Autenticidade, compaixão, certeza...
a urgência, o acaso e a ocasião,
a postura, o primeiro nome, o amuleto, a muleta,
a raiva, a régua, a borracha, o erro, a rasura, a razão
Carregador de bateria, euforia, a perda, a pendência, o pudor o perdão!
extrato, a ponta, a conta nova, a cola da prova e a extensão,
o estímulo, exemplo, ,a voz dissonante...
A coragem do meu coração!
São Longuinho, São Longuinho
Me fale me dê um sinal!
São Longuinho, São Longuinho
Pra onde foi?
A coragem do meu coração!


>>>>> SITE: http://www.oteatromagico.mus.br/

III - DETALHES



   Em seu abrigo, esconderijo alternativo. Percebera que se dava melhor com as palavras do que com os humanos. Talvez, melhor, certamente, porque sobre as palavras ela possuía domínio. Ela naquele lugar com entrada para raros encontrava ao pensar, sutis diferenças entre viver e escrever. A contradição entre os verbos acontecia que ao escrever podia mudar vírgulas, começos, entonações, apagar, rever as falas, pensar sempre antes de expressar, refazer. Já a sintonia estava no fato de podermos escolher o como e o quem, poder aperfeiçoar e mudar os meios para mudar os fins. Enfim, por mais que preferisse seu lápis e um pedaço de papel, ela ainda amava incondicionalmente a vida.


Giovanna Malavolta

3 de janeiro de 2010

II - ELA



Ela, pronome. Ela, quem? Ela, estranha! Ela, talvez...


Ela escreveu um texto, inspirada pela estrela do dia. Durante o crepúsculo, mais exatamente. Percebia os raios de luz por entre as nuvens. E via a beleza singela que aquilo explicitava. Parou para pensar, afinal era ela. Abriu a janela e sentiu o vento por seus cabelos. Seus pensamentos voaram em roda, juntos das borboletas brancas que por sua janela passavam. Ela viu o azul do céu, e as infinitas nuvens suspensas nele. Os desenhos eram diversos, uma boca, um beijo; um beija-flor? Nesse instante lembrou-se de um alguém o qual fazia sua respiração falhar. Permaneceu um momento nesse êxtase. Depois retornou aos giros das borboletas, agora eram brancas e amarelas. A luz diminuía. De um lado o começo da noite; do outro, no horizonte, um fio do dia. Debruçada na janela sorriu. E riu. Ela, feliz. Ela perdia-se de si. De repente, ela se viu com a caneta na mão, sobre o caderno em branco. Piscou. A janela estava fechada, já anoitecera. Sonhara. Ela contou seus segredos às estrelas que brilhavam na noite. Justo ela que nunca escrevera um texto citando o amor.


Giovanna Malavolta

I - PRIMEIRA PESSOA


   Disseram-me uma vez que eu era uma garota de sorte. Por motivos bons e outros, de meu ponto de vista, fúteis. Escutei certa vez também que não possuía noção disso, e que não era possível que eu acreditasse que a sorte, nada era. Afinal, ela estava explicitamente presente em minha vida. Mas para mim poucas coisas, porém não desimportantes, vieram através da 'sorte'. Ou, na minha realidade, do acaso. Todas as outras, eu lutei para conseguir. Minhas amizades foram produto de longas conversas. Não conquistei confianças em um olhar. Minhas pilhas de livros foram tardes de leitura. Não os coloquei embaixo do travesseiro e li enquanto dormia. Meus textos, simples pensamentos transmitidos para o papel. Uma facilidade talvez, como todos possuem com algo. Meu amor pela vida, a felicidade de sentir que posso pedir desculpas. O orgulho nem sempre é um bom aliado. Meus acertos, frutos das correções dos erros. Nada adiantaria esquecer as vezes que caí. Entre diversas coisas. Já chorei de alegria e por alguns momentos acreditei que o mundo fosse acabar. Encontrei minha sintonia e formas de me desligar. E a minha perseverança, nada mais é que incansáveis tentativas de viver a vida como ela deveria ser e não como ela é.. Afinal, viver a vida como ela é, é a maior loucura de todas. Mas, o que é a loucura?


Giovanna Malavolta

O vento.


   Procurar por alguém que não se conhece é difícil. Procurar por algo que não se faz ideia é confuso, sem muita lógica. Procurar sem atenção, pior. Mas, e procurar por si mesma? Conhece, e está extremamente atenta, em grande parte das vezes, durante a busca. Mesmo assim, nem sempre consegue. Cai e levanta sem muita firmeza. Mas sua fé é mais forte, acende sua chama. Porém a vida prega-a tantas peças, que a desanima. Ela fecha seus olhos, ela luta, persiste. Entretanto tudo está mudando, ela sente-se perdida. E quando sua única esperança é a que um outro alguém encontre-a?! Perdida em alguma esquina, em algum cruzamento sem saber por onde seguir. Por onde ir? Norte, sul. Leste, oeste. Afinal, o que isso significa? De que servem tantas direções sem orientações? Ela precisa daquele alguém que dará-a vida. Com um simples gesto. Sutilmente pegue suas mãos e leve-a de volta para casa. Ela precisa de um lar. De um aconchego. Sentir segurança através de palavras de carinho. A vida entra em ação. Ou melhor, as ilusões são desiludidas. Esse alguém demora. Ela espera, está cheirosa. Seu meio sorriso está evidente. O perfume vai perdendo seu efeito. Percebe e senta nas escadarias da deserta praça. Seu rosto está sério. O alguém ainda não apareceu. A rosa que segurava nas mãos começa a murchar. Ela sente e chora e briga consigo. Ela não sabe porquê. O que ela está fazendo ali? Esperando quem? Ela só quer melhorar. O vento parece querer falar. Ela só quer sumir e esquecer tudo, quem ela perdeu, o que ela poderia ganhar. A noite vai chegar, o tempo não esperará por ela. O vento fala. Pega e leva suas lágrimas consigo. Diz para não ficar assim, onde está o brilho dos olhos que ele gosta tanto? Ela resolve não esperar mais. A primeira estrela surge. Sua rosa já perdeu as pétalas, e ela nem se deu o trabalho de fazer bem-me-quer. Ela anda, e para. Pensa e realmente resolve ir embora. Sai caminhando pelas ruas escuras sem querer mais nada. Já se conformou. Diz para o vento não a seguir. As folhas voam pelo chão. Ela esbarra em alguém. O vento agora canta, a canção da noite e de sua solidão. Mas ele está feliz. Ela pensa, aquele pode ser o amor de sua minha vida, mas não olha para trás. Continua andando. O vento não sopra mais. Ele virou e pensou: "Talvez seja por ela que estou procurando.". Percebe que ela deixou cair um caderno. Pega-o e guarda consigo. O vento traz o perfume que ela achava que já havia saído, de pétalas de rosas. Ele guarda aquele cheiro e vai para casa. Ela melhora, sente-se um pouco melhor. A esperança está em sua natureza. Apesar de tudo, ela sabe que esse tudo mudará. Vai dormir sorrindo. "Nos meus sonhos mando eu." E adormece. O vento canta...


Giovanna Malavolta


(Dedicado àquela que sem sua insistência meus textos nunca sairiam de minha mente, Gabriela Reis Angelo )

Inspirações e expirações.


   
   Realejo é inspirado em músicas, fatos cotidianos, instantes particulares, caos, atitudes ambientais corretas, pensadores, um pouco de filosofia e loucura e autores, como Clarice Lispector e Fernando Pessoa. Apesar de ser uma grande admiradora de tal mágica das palavras quase todos meus textos são escritos em terceira pessoa, totalmente diferente da conduta comum de Lispector. Aqui ofereço a você reflexões em forma de textos e figuras, em forma de rascunhos sobre liberdade.


"Aqui restam expirações dela. "


Giovanna Malavolta

O último dia do ano.


   Um dia um tanto quanto tumultuado. Aeroportos lotados, vôos atrasados, falta de vagas nos estacionamentos, táxis já ocupados, filas para o check in, poluição visual dos cartazes com os nomes dos recém chegados, uma bagunça generalizada. Nas rodovias engarrafamentos, carros quebrados, retornos que nunca aparecem, comandos desanimadores e como sempre a fila do lado andando mais do que a nossa. Nos terminais, ônibus chegando a cada quinze minutos, uma confusão de malas iguais gerando troca de bagagens, o medo das filhas atravessarem no farol vermelho numa cidade desconhecida e movimentada. Nos portos a preocupação dos navios balançarem muito, a espera da liberação para o embarque, a decepção por lembrar-se de ter esquecido o remédio contra enjôo e toda aquela demora... As horas passam, todos chegam a seus destinos. Encontram-se com os familiares ou com os amigos ou mesmo seja uma viajem romântica a dois. Na verdade não importa. Quando colocam suas malas no chão de seu apartamento, casa, quarto ou cabine, outro fator que tanto faz, parece que tudo o que aconteceu há horas atrás não teve importância. É melhor deixar pra lá mesmo, afinal é o último dia do ano, para que se estressar? Consequentemente chega a hora de se arrumar. Outros problemas. O homem irrita-se porque o botão de sua camisa nova caiu e não veio um extra, a mulher porque o secador do hotel não é tão bom quanto o seu que ficou em casa, as crianças porque querem ir brincar e ninguém as ouve. A tarraxa do brinco some, o cinto por algum motivo do outro mundo não fecha, o salto quebra, o queridinho da família derruba suco de uva na blusa que a vovó deu de presente. Tudo o que não poderia acontecer no último dia do ano acontece, mas num lapso de esforço para manter a calma tudo se ajeita. Lapso BEM raro entre nós humanos. O botão na verdade estava no fundo da mala, a mãe trouxe uma blusa extra, ela sempre traz, e as outras coisas se dão um jeito, afinal em último caso tem sempre um supermercado aberto para nos salvar. Todo mundo já está pronto para o grande momento. O momento de fazer preces, independentemente de qual seja o seu Deus, de usar a fitinha colorida na calcinha para dar sorte e todas as superstições que você acreditar, seja na cor da roupa ou em algo que se baseie no horóscopo chinês. E a meia noite, os fogos. O mundo por um segundo para. Abraços, beijos, boas vibrações, choros, pulos de sete ondas, rolhas voando, brindes, frases e juras de amor eterno, saudade daqueles que estão longe, telefonemas... E sms agora nesse mundo que se acha moderno e é tão careta que continua com as frases melosas de mil oitocentos e bolinhas como: eu sempre vou te amar, o meu coração é seu, eu vou te esperar e aquelas que todos nós conhecemos. E, de verdade, pela primeira vez em 365 dias tudo é esquecido novamente. Tudo é paz e o branco prevalece pelas ruas. É um novo ano, para muitos um novo começo. Novas metas, desejos, oportunidades, amores, uma nova força. Como a chegada de um novo ano pode apagar tantas coisas ruins. Mas seria bom mesmo que a chegada que cada novo dia tivesse o mesmo efeito.


Giovanna Malavolta

? Bem Vindos ao Realejo .


Sorte ou azar? Talvez sejam somente 'realidades' irreais. Prefiro acreditar no poder do acaso. Meu realejo não possue repostas, mas sim perguntas. Nele não se encontram verdades, mas possibilidades. A música que ele toca é a que cada um de nós possui dentro de si. Deixemos o ideal em seu mundo. Uma história para brincar de pensar. (Parafraseando Cecília Meireles). 


Bem vindos ao mundo da menina singular.


Textos feitos por: Giovanna Malavolta