6 de dezembro de 2010

- A Depender de Mim - Zeca Baleiro


A depender de mim
Os psicanalistas estão fritos
Eu mesmo é que resolvo os meus conflitos
Com aspirina amor ou com cachaça
Os gritos todos virarão fumaça
A dor é coisa que dói e que passa
Curar feridas só o tempo há de
Toda regra para o bem da humanidade
É certo necessita de uma exceção
A depender de mim
Os publicitários viram bolhas
Eu sei como fazer minhas escolhas
E assumir os erros que lá vem
Se a alma finca pé os medos somem
Menino nunca deixe que te domem
Mau pai dizia o verdadeiro homem
Sabe o que quer ainda que não queira
Besteira é não seguir o coração
A depender de mim
Os padres e pastores serão tristes
Eu penso mesmo que Deus não existe
E ainda assim quem sabe eu creia em Deus
Se Deus é o outro nome da verdade
Deste momento até a eternidade
Eu levo entre mentiras e trapaças
Besta felicidade frágil farsa
do que preciso riso preces e paixão

5 de dezembro de 2010

Nó .

"Para Capitu, Machado
Para uma mulher, Clarice
Para Guimarães, Brasil
Na terceira margem do rio
" - (Para todas as coisas - Ana Cañas)


     Ela já não sabia sobre o que escrever. Ou mesmo o porquê disso. Para si a sua arte de escrever, se é que poderia chamá-la assim, não teria razões para existir se não fosse fazer diferença na vida de um outro alguém.  A seu ver, os valores estavam cada vez mais complicados de serem compreendidos. Contudo, a sociedade os atribuía outros adjetivos como sendo, nessa imensa insensatez, justos e liberais. Primeiramente, caso ela pudesse perguntar, a abordagem seria: "Defina LIBERDADE". Após isso, concordaria com o conceito liberal. Ela não defendia frentes socialistas ou muito menos anarquistas, pelo contrário, não fazia sentido para si pessoas lutarem, morrerem e tentarem convencê-la de algo que nunca antes dera certo. Infelizmente ou não, ela cria no automerecimento. Entretanto, retornando à idealizada justiça, possuía seu ponto de vista. Este era crítico, conhecido apenas por si mesma e confuso. Sim, como os nós que demos e depois nos arrependemos por não conseguirmos desatá-los. Como uma rede social pode ser considerada justa por não possuir preconceitos, ou mesmo por extingui-los e puni-los se proíbe a defesa do réu? Quiçá  como o fato de você não apoiar algum movimento o faz ser contra ele? Ela era um tipo raro de pessoa, não possui preconceitos raciais, de opção sexual ou sociais. Mas, compreendia que outros os possuíssem há tempos e nem por isso, nem pelo fato de discordarem dela, não deveriam merecer respeito. Hoje, Ela vê pessoas indo äs ruas lutarem por seus direitos. Para si, teoricamente, estes estão corretos. Porém, a forma de todas essas manifestações vai além de sua forma de compreensão. Na linha da história do famoso homo sapiens houve tempos remotos, uns de avanço, outros conhecidos como Tempo das Trevas. Posteriormente, renascimento e só felicidade... Há algum tempo, todavia, "o futuro já não é mais como era antigamente", e o orgulho brota da imoralidade. As pessoas não podem dizer o que elas pensam dentro de seus limites morais. Isso a fazia enlouquecer. Apresentava-se de diante de seus olhos uma censura ditatorial em massa assim como nos tempos em que a humanidade nada evoluiu. Isso não seria uma forma de preconizar aquele que possui o preconceito? Paradoxal.  Antes a culpa era remetida à Igreja. Hoje? Ela estava tentando descobrir. Talvez fosse a alienação, o governo, o capitalismo, nós mesmos. Toda espécie ao alcançar seu potencial biótico máximo e ultrapassá-lo possui tendências a entrar em extinção. Os homens acreditam que por se considerarem semideuses na Terra podem escapar do triste enredo. Ela já não possui tanta certeza assim. E ela notava toda essa anarquia na arte. A música banalizada, em que as grandes mentes que surgiram foram sendo esquecidas sem a mínima preocupação de conservar a cultura. O Teatro sempre preconizado, acreditando ser algo para a elite ou mesmo desinteressante. A Literatura ignorada, considerada antiquada e incomparável aos fantásticos romances contemporâneos de contos de fadas ou livros de autoajuda que até mesmo Ela ao ler encontraria erros gramaticais. A Literatura que Ela tanto amava, apoiava-se e sonhava. Mais que isso, nela encontrava meios de concretizar seu mundo das ideias. Ela queria mudar o mundo e muito mais. Ela queria possuir algum dom. 

Liberdade é Pouco.
O que eu desejo ainda não tem nome.
Clarice Lispector. 

Ela estava à procura desse neologismo ainda não identificado.


Giovanna Malavolta
  

3 de outubro de 2010

ENTRELINHAS

     Ela simplesmente não sabia explicar como todos se entusiasmavam quando dizia que iria mudar-se. Logicamente com a questão de uma casa nova, coisas novas, vida nova. Essa era a parte boa. Mas antes dela precedia a poeira, as caixas há muito sem serem abertas, as cartas jogadas ao chão, as fotografias que causavam falta de ar. Tudo numa mistura de água e sal, saudade e reflexão. Ela estava naquele exato momento de imersão. Observou-se em meio de uma infinidade de papéis, letras reconhecidas acompanhadas do cheiro relembrado na imaginação. Naquela desordem, toda a sua capacidade se resumia a olhar. Olhar carta por carta e pensar em qual lugar aquele laço deu errado, ou este foi afrouxado... E esse? Porque nunca mais se falaram? Distância, descaso, decepção. Ao fechar os olhos conseguia sentir os abraços e escutar as vozes e promessas: "Nós nunca, nunca mesmo, vamos nos separar."E ela se perguntava... Será que somente ela lembrava desses frases? Das fragrâncias e tons. As fotos, entretanto, eram a pior parte. Elas diziam mais do que as cartas. Mais do que os bilhetes, mais ainda do que as próprias lembranças. E o volume da caixa com as fotos especiais cada vez aumentava mais, e mais. De repente fechar todas aquelas confissões não parecia tão fácil como sempre fora. A decisão entre vai ou fica nem sempre era tão simples. Mas havia outra caixa. Mais reconfortante, revitalizadora, real. Essa era aberta com uma frequência relevantemente alta. Eram as cartas dos novos amigos, as fotos das últimas viagens, da nova escola... Para ela, isso não diminuiu o valor da outra, mas demonstrou que ela ainda possuía pessoas extremamente especiais a seu lado. Deixou claro que é o que acontece... E cercada por toda aquela poeira, horas passaram sem ela ao menos sentir. E os perfumes que só ela sentia se misturavam no ar. E os abraços, na mente. E ela sabe que se lembrará de tudo. Ela sempre lembrou.

Giovanna Malavolta

6 de setembro de 2010

I - JOVEM

"Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você. . . "
   Ela pensava, rascunhava e escrevia. Tentava de todas as maneiras compreender o que era a juventude e o que fazia com a dela. Nunca tivera muitos problemas com tal questão, afinal era feliz, uma garota "de sorte". Mas, ultimamente, algumas coisas incomodavam mais do que antes, e preocupavam mais do que antes. Sempre ouvira dizer, quando criança, que a juventude era o futuro do mundo. Entretanto, agora ela era um pedacinho dessa juventude. E a pergunta rondava, qual futuro? Às vezes ela também questionava se os adultos de hoje já se esqueceram da juventude deles de antes. Pareciam tão indiferentes e irrelevantes aos gritos dos jovens que, sinceramente, ela apostava suas cartas de que nada se se lembravam. E essa tal de teenage assombrava... Eleições, com candidatos cada vez piores, mas para onde foi a juventude destes? Vestibulares, com as expectativas de todos os pais cujos filhos são melhores de todos os outros. Mas se alguns são reprovados, não são todos tão bons assim. Profissões daqueles que mal sabem fazer miojo e já possuem todos os planos de assim que entrarem na faculdade serão auto-suficientes. Amizades, em que às vezes nota-se que tudo não passa de uma superficialidade e aqueles que você realmente quer por perto simplesmente estão sempre fora do seu alcance. E isso a incomodava mais ainda, por saber que uma de suas melhores amigas mora em outro continente, fala outra língua, vive em uma outra cultura, mas conseguia a entender como ninguém. E aqui, em sua própria casa, ninguém conseguia se comparar. Religião, em que às vezes por trás de tanta corrupção fica difícil até mesmo de enxergar a fé. Crimes, violência e falta de caráter eram coisas tão abstratas que ela possuía dificuldade para entender. Simplesmente acreditava que aqueles que matam não podem ser humanos. Contudo ela se lembrava da ideia de uma frase que lera em algum lugar a muito tempo atrás... Dizia que o homem estava desaprendendo a ser humano. E outra dúvida surgiu, o que é ser humano? O ser em sua essência. O ser em seu real valor. E por fim, o amor. A juventude não possuía claramente os valores para um relacionamento nessa fase. O certo seriam relacionamentos duradouros e firmes? Ou uma época para experimentar coisas novas? Essa questão foi interrompida pelo toque do telefone. Talvez fosse ele. Mais uma discussão? Então isso ela discutiria numa próxima ocasião.

E ela, em sua solidão rodeada por todos, pensou consigo antes de atender ao telefone:
"E se o tempo expressa sentimentos, ultimamente, sou eu quem anda a comando dele."


Giovanna Malavolta

20 de julho de 2010

It's time to realize .

Era um deque.  A mais ou menos a hora do crepúsculo.  O sol encontrava-se pouco acima dos prédios e das grandes construções. O trem passava acima da grande ponte que unia os dois lados da cidade. Ao fundo os sons eram distintos, e alguns delicados como o alerta de que uma bicicleta estaria a passar. Os barcos navegavam calmamente e, por um instante, nao tao breve assim, ela amou estar ali. Nesse pequeno momento ela entendeu. Entendeu que estava num momento único em sua vida. Bem, ela considerava  todos os momentos como únicos, mas, desse tipo, esse era o primeiro de muitos que viriam. Ela , sentada ali num mundo totalmente novo. Pessoas de todo o mundo em um que nao era o seu. Línguas mesclavam-se e algumas vezes ela sentia falta da sua. Sentia falta das pessoas que amava. Mas ela estava ali. Com o clima agradável e pássaros brancos no céu. Com risos como plano de fundo e olhares acolhedores daqueles que diziam que iriam sentir sua falta. Ela também iria sentir a ausência de tudo aquilo. Das antigas construções tao diferentes de sua comum realidade. Da calma e de todo o verde que sempre estava ao seu redor. Ela so teria que confessar que nao sentiria falta da comida. Afinal, nada compara-se aquela que sua mae faz. Enfim, ela parou para observar. Pés dentro da agua, possibilitando um momento de reflexão para aquelas pessoas que fugiam de sua vida corrida e ocupada. Um pouco mais a frente, pessoas lendo livros. Atras, amigos. Nacionalidades totalmente diferentes, línguas, comidas e hábitos. Amigos. Uma viagem que possibilitava a união de pessoas que se nao estivessem ali, naquele momento, nao teriam a oportunidade de aprender e compartilhar tudo o que um dia aprenderam. Interrompendo suas letras por um segundo ela se perdeu, mas descobriu que ganhou mais um fita. Um sorriso. Uma amiga, e um abraço. Na verdade, mais algumas fitas. Desse lugar ela levaria presentes, que resumiam as lembranças com essas pessoas tao diferentes e especiais. E ela saberia que nem mesmo as fotos, poderiam retratar aquilo que ela guardaria na memória. Agora, o sol ja estava meio encoberto e ela podia tirar os óculos de sol. Podia ver, apreciar e compreender a beleza e aquele cheiro de agua. E reconheceu as cores do céu. Amarelo, laranja, azul, rosa e verde. E lembrou da janela de seu quarto. Lembrou de tantas tardes que passou  sentada, apenas sentindo e refletindo. As vezes ela esquecia que o céu azul era o telhado do mundo inteiro. E que aquele sol e aquela lua que ela conseguia ver, eram os mesmos em qualquer lugar que ela estivesse. E que pessoas sao pessoas. Nao importa de onde elas vem, ou como elas falam.  Nao importa se elas gostam das mesmas coisas que você gosta, elas podem ser suas amigas. E ela nao estava falando de colegas.
Ela estava falando de uma coisa diferente. De uma coisa que pra ela, nunca vai passar. 

Giovanna Malavolta

28 de junho de 2010

IV - DON'T WORRY

     "- E o medo, a ansiedade?! - Replicaram.
    - Não se preocupe. Ela está pronta. Sempre esteve."

   Em toda aquela história, Ela nunca esteve sozinha. Ele entrou em sua vida a pouco tempo, mas um Outro está faz mais ou menos alguns muitos anos. Um dos poucos, é, daqueles poucos que ela conseguiria contar nos dedos, que sempre a apoiou.  Tanto em seus sonhos mais simples como escrever e criar sua própria história, até os mais difíceis, como ir morar abroadUm alguém como uma luz. Entretanto, ela nunca foi de demonstrar verbalmente seus sentimentos. Bem, nunca foi de assumí-los, ou qualquer outra coisa do tipo. Mas sabia que ele era do tipo que ela levaria consigo para o resto da vida, independentemente de onde estivesse. Na carteira ao lado, ou a quilômetros de distância. E quando o destino os separou da rotina cheia de brigas, ela sentiu saudade. Sentiu falta dos free hugs e dos carinhosos "Bom dia, minha flor." Sentiu até mesmo falta de suas retrucas como: "Só se for o seu.", quando estava irritada ou quando o namorado não ainda havia mandado nenhuma mensagem. E ele ria dela, como o de costume. Mas o mais engraçado de tudo, foi quando ele conseguiu uma namorada. Ao primeiro momento ela enfureceu. Ele era SEU irmão. Um dos homens que ela nunca dividiria na vida. "Como assim? Você só pode estar brincando!" E o medo de perder o contato também apertou seu coração. Ele amaria mais a outra do que ela, e isso era depressivo. "Como sempre, você com seus exageros quase nada dramáticos." Era verdade. Ao segundo momento ela pulou de alegria e começou a achar a ideia um máximo. Agora eles poderiam sair a quatro, e Ela teria uma cunhada!  E o mais importante de tudo. Ele estava feliz. Um modo que ela em todo esse tempo nunca presenciara. Ela estava feliz. Realizada. Mesmo com as fronteiras e empecilhos, ele continuava lá. Ela sabia disso, e num lapso do momento, em tanto tempo ela respondeu numa breve conversa: "Também amo você." Diga-se de passagem que quando crianças ele costumava zombar, arrancar sua tiara preferida e esnobar o laço nela presente. Já ela, desde muito cedo imponente e acreditando ser a dona do mundo, acertava-lhe a lancheira. Ele era o tipo que ela pedia todos os dias a todos os céus para que sumisse, mas que estivesse protegido. Era seu melhor amigo. Mas isso são assuntos passados. Assuntos de infância. Assuntos de dez anos atrás. 

Giovanna Malavolta

   

13 de junho de 2010

III - CORAÇÕES

    
 Um segredo dela. Ela escrevia sim uma história. Uma história repleta de cartas, textos e confissões. Uma história em que todos os tipos de sentimentos reuniam-se e misturavam-se. Uma história em que a menina singular era Sophie, e seu amor, Enrico. Ela estava produzindo e criando. Ela estava amando. 

>>> Fragmento. 




"Olá Menina Singular,

Infelizmente terei que mostrar-lhe que não possuo palavras quando se trata de você. Faltam-me vocábulos suficientes. Nosso acordo era procurarmos não nos falarmos já que você estaria terminando uma etapa de sua via e eu começando outra em minha. Mas o que eu posso fazer? Como será que realmente devo agir?
Tudo por aqui me lembra você. A sua imagem invade os meus sonhos e a minha mente sem pedir permissão, como você costumava brincar. E tudo faz falta meu amor. As noites estreladas e a lua me lembram você e a trazem para perto, fazem com que eu sinta sua respiração perto de mim ao dormir. Minhas mãos estão frias, Sofia. Irei começar uma vida nova, mas você é quem trago em minha bagagem.
Façamos assim: já que será muito difícil nos falarmos e não saberei se você realmente irá querer que eu continue escrevendo, porém se a conheço bem sei que sua força de vontade é mais forte que sua curiosidade, se você não quiser simplesmente jogue as cartas fora. Em cada local pelo o qual passarei enviarei algo para você, precisamente fotos para o seu álbum. Esquecer você foge de meus planos.
Bem, acredito que é isso. Estou muito bem aqui, é um mundo completamente novo, você adorará conhecê-lo Sophie. Como eu gostaria que fosse você quem tira as fotos que eu peço para estranhos. Como eu gostaria que fosse você o que eu abraço todas as noites, ao invés do travesseiro que inutilmente tenta ocupar o lugar do vazio entre meus braços. Sempre soubemos que o para sempre é só por enquanto...

Então eu te amo para sempre,
do seu menino raro.
Enrico"



II - PITSTOP

    
     E quando ela percebeu não era cedo, nem tarde demais. Não era o momento certou ou o momento errado. Simplesmente o instante. Indubitavelmente ela sentia saudades. Abstração, sentimento ou mesmo incerteza com que ela nem sempre se deu bem. Considerada como desprendida e independente, não precisava de tudo sempre. Nem das coisas, nem das pessoas. [Afastava-se daquilo que exigia-lhe laços. Não possuía qualquer tipo de vício.] Nem mesmo de seu pequeno refúgio. Ou talvez não. Talvez ela precisasse sim voltar ao mundo da menina singular. [Aquela cujo codinome surgiu de uma simples música, num simples momento.] Talvez ela fosse normal e sentisse medo. Mas ela não era normal. Mesmo assim, enquanto não fosse resgatada pelos seres de seu planeta, continuaria sujeita a sentir medo. A seu cenário e mundo imaginário, parecidos ou não com o famoso wonderland de sua infância. Com suas paredes coloridas com todos os tons de palavras. Perfumadas pelas sílabas. Com o gosto doce de cada letra. Com os decalques macios dos pontos, das vírgulas, das reticências. E com suas músicas favoritas sempre entre aspas. Ela era uma parte importantíssima de si mesma. A parte da coragem, da força e da segurança. Uma das partes que mais mudava, que era uma metamorfose ambulante. E, mesmo assim a essência era a mesma. Sempre, como as aulas de filosofia sempre comprovaram. A menina singular sentia falta do espaço que antigamente ocupava. E ela estava cansada demais para perceber isso. Mas quando notou não foi tarde demais, ou cedo. Foi simplesmente o instante.    

E lembrou de algo que ouviu em algum lugar, de algum alguém: "Nunca pare de fazer aquilo que você ama. No seu caso, nunca pare de escrever." 



Giovanna Malavolta

12 de junho de 2010

I - !

Foi-se o tempo em que elas não estavam mais tão presentes entre nós. 


Unicamente e detalhadamente em cada singelo canto, de cada sala, de cada biotipo. 


Trazem consigo risos de si próprias nas inúmeras expressões vazias e olhares de canto. 


Inutilmente tentam atingir a todos. 


Lidam com a lista interminável de emoções e sempre conseguem a mesma coisa:  
Insatisfação. 


Depois, 
Arrependimento. 


Disso todos os que possuem um pingo de bom senso sabem e percebem. E quando elas olham no espelho acontece uma pitada de reflexão que, por incrível que pareça, resulta em orgulho. 


Se é que um dia isso tudo realmente aconteceu, acontece, acontecerá. 




mas afinal, quem são elas? 




Giovanna Malavolta

24 de março de 2010

III - MELHOR*

   Sabe-se que Ela, é aquela mesma de outras tantas histórias, possuía uma melhor amiga. Meio linda, meio loira, com os olhos meio que verdes da cor do mar. E sabe-se também que ela sentia muita falta dessa garota, um tanto quanto meio louca, que há tanto tempo fazia parte de seu mundinho para raros. Que há algum tempo passava tardes e tardes inteiras dividindo todos os tipos de emoções. Emoções que às vezes nem eram delas, mas sim de suas personagens. Que há pouco tempo ela via e abraçava todos os dias. Que ela contava seus segredos e dúvidas. Que ela mais do que tudo, amava. Ela orgulhava-se de ter uma amiga tão sincera e determinada. Tão boa e sonhadora com os pés no chão. Uma amiga que parecia estar tão longe de toda aquela futilidade e infantilidades que ela presenciava. Uma amiga que ela percebia que estava-se se tornando uma grande mulher. Mas Ela teve que ir embora, mesmo com o coração apertado por deixar uma parte de si naquele lugar, que por pior que um dia poderia ter sido, ela considera o melhor do mundo. Porque nesse mesmo lugar existia uma parte livre de toda aquela hipocrisia. E ele concentrava-se nos corredores, camarins, coxias e no palco. Até mesmo nas poltronas onde elas se escondiam pra conversar. E num lugar muito alto e com muitas, muitas, muitas e muitas escadas. Mas valia a pena, afinal elas iriam se encontrar. Uma grande amizade que surgiu do nada e não terminará por coisa nenhuma. Elas sabem que estão longe, sabem que irão encontrar novas pessoas e sabem que terão novas amigas. Mas ninguém conseguirá ocupar aquele pequeno lugarzinho dentro delas. Ninguém saberá ver melhor quando a outra deseja chorar. Ela era PhD em escutar e compreender, já a outra em aconselhar e acolher. Elas eram, são e serão tipo arroz e feijão mesmo, queijo e goiabada, calda de chocolate e sorvete e todas as outras comidas gostosas que você possa imaginar que são muito boas separadas, mas juntas são SENSACIONAIS. Ela admirava muito aquela sua amiga e mesmo que se desentendessem o tempo todo, possuíssem opiniões totalmente diferentes, elas iriam compreender. Elas seriam amigas. Melhores amigas. Ela sabia que não esqueceria aquela amiga que era ‘meio’ tantas coisas. Aquela amiga que ela levaria consigo meio que pra sempre. 

Giovanna Malavolta

para D.M. (24/03/1993)

13 de março de 2010

II - RESPOSTAS SUBENTENDIDAS

   E se... 

não der certo.
você não se adaptar.
não funcionar.
você se arrepender.
não for como você imagina.
você quiser voltar.
não conseguirmos sem você.

você mudasse de ideia ?



E o velho ditado, "E se" em história, não existe. 

Giovanna Malavolta

I - DATAS


    Afinal, o que exatamente é o tempo? Tantas datas, dias, horas e horários para controlar a vida. Se pararmos para perceber são apenas números. Números, números. Como deixá-los dominar nossa própria existência? Como permitir que eles nos digam o quanto e como comer. E melhor do que isso. Bem melhor. Como aceitar a ideia de que nossos corpos agora que precisam se moldar para entrar nas roupas e não o contrário? As fitas métricas saíram das costureiras, que nem sabemos se ainda existem, e foram para as casas das sonhadoras por um físico de manequim. As réguas há tempos são utilizadas com a maior frequência possível, metros, centímetros, milímetros... E a matemática tratou de explicar as curiosidades e verdades que, num tempo não tão tão distante, eram chamadas de "vontade de Deus". Conseguiu criar polêmicas e desacordos entre religiosos e cientistas. Essa mesma matéria que consegue englobar além de números em suas infitas fórmulas letras, algo que não faz sentido, começou a ditar as regras do mundo. Começou, assim como para controlar as máquinas, instalar sistemas nas pessoas. Torná-las automáticas. Taxas, contas ao fim do mês, salários, orçamentos, tempo de espera, urgências. E começou a sistematizá-las através de suas letras. Sempre os mesmos discursos, declarações, desculpas. Os números tomaram conta do mundo. E seu desenvolvimento tecnológico agora domina aqueles que os dominavam.


E como a banda "Engenheiros do Hawaii" diria, "E eu, o que faço com esses números?"


Giovanna Malavolta

20 de fevereiro de 2010

VII - UM .


   Eles eram simplesmente eles. E ela resolveu que não tocaria mais num passado distante que, sinceramente, não queria para si. Resolveu que tudo que aconteceu antes deles eram meras lembranças. Não as ressuscitaria mais para fazer comparações ou mesmo para esclarecer sentimentos. Tudo isso ela já fizera e acreditava que ele já compreendera o que ela sentia. Todos, palavra que ela não gostava nem um pouco de citar, acreditavam que ele a amava muito mais do que ela sentia por ele. Esses comentários a magoavam. Afinal, ele pode sim ter começado a amá-la muito antes do sentimento ser recíproco. Mas quando aconteceu do coração dela parar de bater por um segundo, os amores se igualaram. Talvez achassem que ele era muito mais apaixonado por fazer declarações públicas de amor. Mandar flores, lindos buquês, comprar lindas alianças, fazer loucuras de amor como ir até a casa dela doente embaixo de chuva, ou mesmo mentir para todos afirmando ser o aniversário dela para poder entregar as rosas. Não se pode negar que sim, ele a amava e MUITO. Mas todo aquele amor era explícito, diferente do dela. Ela possuía sérios problemas com as palavras ditas e por isso ninguém entendia como ele podia desejá-la tanto. Ela era o alguém que quase não falava de amor. Que não gostava de dizer Eu te amo, e muito menos fazer juras de amor em forma de serenata. Mas o que os outros não sabiam era que ela, na verdade, gostava de expressar-se em palavras. Podia não saber dizer oralmente como se sentia, mas se pedissem para ela escrever páginas e páginas de seus sentimentos em textos, ela não acharia dificuldades. E era através disso que ele a amava. As pessoas viam as loucuras dele de amor, mas não viam e muito menos liam as dezenas de cartas que ela escrevia. As cartas em que ele ria, chorava e arrepiava-se. As cartas em que só ele via o quanto ela o amava e o quanto ela era louca por ele. Enquanto esses outros, até hoje, acham que ela não o merece, não a conhecem. Não sabem como ela adaptou-se a ele. Como eles amadureceram juntos e como possuem muitos e muitos sonhos juntos. Como se apóiam mesmo morrendo de ciúmes e saudades. Mas deixando os outros de lado, eles já estavam a um tempo juntos. 
   Eles agora estavam fazendo aniversário. Um ano juntos. Para os que juntaram-se agora, uma eternidade, para os que estão muito tempos juntos, só o começo. E nesse um ano, ela o ensinou a dizer o que sentia através de cartas. Assim como ele a ensinou a falar o que passava-se dentro de sua mente um tanto quanto confusa. Ele a ensinou muitas coisas. Ensinou a rir de si mesma ao cair. A não surtar quando ele não atende o telefone ao primeiro toque. Ensinou que chocotone com sorvete é a melhor coisa que existe. Quer dizer, a melhor coisa de comer que existe. Porque a melhor coisa que eles aprenderam juntos, foi amar. E como o amor é o melhor sentimento que existe. Ele também a ensinou a não se preocupar-se tanto com o peso e que ele é aquele famoso príncipe encantado desejado por todas; ao citar um texto que acredita-se que essas um dia tenham lido e escrevido para algum menino, coloca no perfil do orkut, como subnicks do msn. É, aquele que descreve o novo modelo de príncipe, aquele mais ou menos assim: Encontre um homem que te chame de linda em vez de gostosa. Que te ligue de volta quando você desligar na cara dele. Que deite embaixo das estrelas e escute as batidas do seu coração, ou que permaneça acordado só para observar você dormindo.Espere pelo homem que te beije na testa. Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando você está suando. Um homem que segure sua mão na frente dos amigos dele. Que te ache a mulher mais bonita do mundo mesmo quando você está sem nenhuma maquiagem e que insista em te segurar pela cintura. Aquele que te lembra constantemente o quanto ele se preocupa com vocÊ e o quanto sortudo ele é por estar ao seu lado. Espere por aquele que esperará por você... Aquele que vire para os amigos e diga “É ela!” . Ele também a ensinou, a muito custo, uma coisa muito importante. A ensinou falar em primeira pessoa. 


Giovanna Malavolta




( Dedicado ao meu T.G.P. )

18 de fevereiro de 2010

► ARTE COMTEMPORÂNEA



OP ART


VI - AMIZADE

   A amizade vai além de promessas de eternidade, de presentes e palavras. A amizade verdadeira baseia-se na cumplicidade mútua e a certeza de abrigo em momentos difíceis. Supera intrigas e futilidades da vida e compartilha os mais gostosos sabores da diversão ou da simples companhia. Resume-se a risadas sem motivos, olhares de acolhimento, gestos de carinho, respeito e compreensão. Aflora na alma a felicidade em ver o amigo feliz e saber que com ele tudo se pode contar. É confiar sem se preocupar com censuras e viver em duas almas distintas, mas que formam apenas uma. Completa-se a vida e ganha-se a certeza de que a solidão está bem longe de casa. Verdadeiro amigo é a alma generosa solitária, aquela que dá sem querer receber, entretanto na verdade ganha muito mais. Saudade é um sentimento vivo pela distância mas nunca faz com que nos esqueçamos de nosso amigos, daqueles verdadeiros amigos. Afinal somos eles e eles tornam-se nós. 


Os verdadeiros amigos em nossa existência são eufemismos de nossas tristezas e hipérboles de nossas alegrias.



Giovanna Malavolta




*Há muito tempo esse texto foi escrito para a minha "amiga von".

V - EU TE AMO / "Don't it mean "I love you" ?"

Eu te amo é uma expressão muito forte pra ser dita da boca pra fora ou por simples obrigação.




Giovanna M.

IV - NARCISISMO

Ela é aquele tipo de . . .  


Alguém que não liga para o que os outros pensam,
Que oferece abraços grátis.
E que mergulha em pensamentos em que 
Domina seu mundo na ponta do lápis. 


Alguém que já tocou as estrelas,
Que já riu até doer
E da bom dia para as paredes pois
Fascina-se por viver. 


Alguém que sonha sem limites,
Que canta no chuveiro.
E é aquela que não é de ninguém mas
Possui o mundo inteiro.


Alguém que se sente diferente,
Que sempre possui um porém.
E acredita que por isso
Sempre gostava de ir mais além .


Giovanna Malavolta

17 de fevereiro de 2010

► ARTE COMTEMPORÂNEA



POP ART



III - JANELA

   E pela janela ela olhava. Olhava a pureza daquelas pequenas mãos ao brincar na neve e ignorar o frio. Notava os pequenos devaneios presentes desde de sempre. Presenciava a perfeição nos singelos erros nas asas dos anjos desenhados no chão. Imaginava aquele universo paralelo da qual ela mesma um dia fez parte. Um universo no qual tudo era possível e todas as pessoas sorriam. Outro universo em que todas aquelas outras discussões não existiam. Ela um dia vivera naquele universo em que tudo era perfeito. Mas resolveu deixá-lo para trás. Mesmo que isso significasse colocar um pouco mais de cinza em seus dias ensolarados. Afinal, se tudo aquilo que uma vez criara não poderia ser contado como história, e realmente sentido pelo coração por não ser verdade, não valeria a pena continuar fingindo. Em sua infância talvez aquilo tenha sido realmente saudável para livrá-la da triste situação em que os sonhos nem sempre se realizam. Mas como Shakespeare diria, uma criança descobrir que suas fantasias não podem ser levadas adiante seria uma verdadeira tragédia. Mas ela não era mais uma criança. Mesmo sendo cedo demais para isso. Mesmo sendo cedo demais para perceber que quando nossos pensamentos estão nas nuvens, seria bem melhor manter os pés bem presos ao chão. Para dizer a verdade, em sua concepção descobrir isso sempre deveria ser cedo demais. Mas quando se sabe o tamanho do tombo, às vezes a dor é menor. Dor. Naquele seu universo isso só existia quando ralava os joelhos tentando aprender a andar de patins. Chega, pensou. Agora ela fazia parte de um outro mundo. Desse que todos fazem parte. Era isso. Agora ela só precisava de sua pá. Para enterrar tudo aquilo que ela vira pela janela. Ela via através do vidro meio fosco por sua respiração quente a si mesma brincando na neve há muitos invernos passados. Colocou seu cachecol roxo. O mesmo desses mesmos tantos invernos. E ela então enterrou seu cemitério. Seu cemitério de lembranças. Tudo isso dentro de um pequeno e raso buraco na neve. Tudo isso ainda dentro de seu mundo imaginário. O mesmo mundo que pensava ter deixado para trás . . .


Giovanna Malavolta

10 de fevereiro de 2010

II - CONTRADIÇÕES


   Ela não sabia onde. Ela não sabia como. Ela não sabia porquê. Ela nunca fez parte de um conto de fadas em que acreditasse. Mas os fazia acreditar. Ou melhor, eles acreditavam porque queriam. Porque "achavam". Ela nunca possuiu a chave para entrar naquele castelo. Nunca soube qual estrada pegar para chegar até ele. Entretanto, os outros afirmavam que lá era sua casa. Que a janela mais alta era a sua vista para o pôr-do-sol e seu despertar pelo amanhecer.. Que todos aqueles tijolos demonstravam sua força interior por trás de toda sua delicadeza ao falar, esclarecida nos detalhes das portas decoradas em ouro. Sua varinha não possuía uma real magia, um encanto que se pudesse pegar nas mãos. Apesar de jurarem que ela transformava as coisas e mais notável do que tal ação, as pessoas. Porém, se num dia distante ela chegou a usar essa fascinação, não possuía ideia de como. Ela não usava um vestido de princesa lilás ou mesmo uma coroa. Contudo, era assim que todos a enxergavam. E era por isso que os rapazes retiravam seus, finos ou não, chapéus ao verem Ela passar. E como resposta,  Ela fazia o que mais gostava, sorria. Ela também desfrutava do medo do escuro e de outros tantos medos. Todavia, diziam que Ela não sabia o que eram receios, pois emanava uma luz. Isso com certeza a protegia de tudo e a livraria da escuridão. "Ela? Uma verdadeira princesa aos dezesseis. Tão corajosa e bondosa. Simplesmente uma moça que pode ter sua cabeça nas nuvens mas sem tirar seus pés do chão. Tão humana." Enganados tantas e tantas vezes. Ela era simplesmente um alguém escondido atrás de uma pintura. Como todos os outros. De uma tela com a mistura de cores como maduridade, força, racionalidade, bondade, certezas e esperança. Um espelho para muitas meninas que ainda vivam em seus mundos cor-de-rosa repletos de sonhos. Esperança, este era o único fator que inteiramente fazia parte de seu interior e exterior. Já em questão dos outros, ela também tinha seus contra pesos. Ela também sofria de momentos repletos de infantilidade, momentos de medo, sentimentalismo, raiva. Momentos de incertezas. No entanto, enquanto ela conseguisse pintar a paz nos muros da cidade, ela estaria satisfeita. Enquanto ela ainda conseguisse compreender a todos e mostrar amor à vida. Enquanto ela conseguisse ser realmente e interiormente humana. Enquanto ela não precisasse dizer adeus. Se fosse para espalhar o bem ela continuaria satisfeita. Satisfeita com a imagem que possuíam dela. Mesmo sabendo que sua vida era normal, seu castelo resumia-se a seu caderno, que sua varinha era seu lápis, seu vestido e sua coroa: as fitas. O medo eram os borrões e rabiscos que ela tanto detestava ao escrever, não gostava de errar. Bem, apesar disso, ela permanecia satisfeita. E talvez até vivesse mesmo num mundo só seu, num mundo quem sabe, imaginário entre as linhas.


Giovanna Malavolta

I - AQUÁRIO

Sabe, existem amigos e amigos e várias classificações. Os melhores, os piores, os pra rir, os pra chorar, etc e etc. E existem aqueles que são iguais a você. Entendem porque você está surtando do nada e porque você se ofendeu. Entendem a felicidade e a compartilham com você. Entendem no que você vê felicidade e satisfação. Entendem que não existe cor mais bonita do que o verde. Entendem que escolher qual vestido usar  é uma tarefa desafiadora. Entendem que os comentários matinais são quase um dever ou uma simples forma de pensar ou agir. Sabem a que você dá valor e que também você odeia e ama ao mesmo tempo o dia do aniversário. Sabem que você estará para tudo e que esses amigos também estarão. Sabem que você detesta chamar a atenção explicitamente, tudo deve ser muito sutil. Sabem qual tipo de menino chama sua atenção e aquele que não possui muitas chances com você. Entendem que as pessoas com o tempo mudam mas a amizade não. A sua intensidade permanece e a cumplicidade aumenta. Talvez porque esses amigos sejam só um dia mais velhos do que você. Talvez porque possuam o mesmo signo, ou o mesmo gênio difícil ou a mesma capacidade de ser legal. Talvez porque na infância vocês não se gostavam muito. Talvez porque vocês estão crescendo juntas. Talvez porque simplesmente seja pra ser. Ou mesmo porque nós amigas somos raridades. Raridades Raras. 

Giovanna Malavolta

"As alegres meninas que passam na rua , com suas mochilas , às vezes com seus namorados . As alegres meninas que estão sempre rindo , comentando os acontecimentos da sala de aula ou da festa passada , essas coisas sem importância . O uniforme as despersonaliza , mas o riso de cada uma as diferencia . Riem alto , riem musical , riem desafinado , riem sem motivo , riem . As alegres meninas , um dia mais sérias , que estam crescendo juntas tornando-se adultas , essas mulheres ."
(Parte do texto "Essas meninas" de Carlos Drummond de Andrade com pequenas alterações.)

2 de fevereiro de 2010

Fevereiro.

     
   O primeiro do menor mês. O mês do carnaval, que hoje infelizmente é apreciado de maneira um tanto quanto sem arte em certas questões; Apelos desnecessários se é que entendem. O mês das festas e praias. Das marquinhas de biquíni e os amores que não sobem a serra. O mês do reinício das aulas e toda aquela rotina imposta e intocável não tão legal assim. O mês em que começam a entregar todas aquelas folhas na escola que nós sempre juramos que foram abduzidas antes mesmo de chegar em casa. O mês de outras fantasias. O mês que ela mais gosta e ao mesmo tempo, em seu começo, é o que se encontra mais azeda. Talvez seja o inferno astral. Essas constelações nunca pegam leve com ela. Talvez sejam as pessoas chatas que ela reviu na escola. Que, provavelmente, muitas até o fim do ano serão grandes amigas suas. Talvez sejam os hormônios (Ouçam os conselhos das mulheres: elas de tpm são O terror). Talvez sejam as chuvas constantes que abriram o mês. Ela anda chateada, sente falta dos dias de céu completamente azul. E, justo nesse mês que é o mais curto, todos os dias não poderiam ser lindos? Fechados apenas por uma garoa, os beijos na chuva são os que ela mais gosta. Assim como os banhos. E ela sabe que quando piscar esse mês terá acabado. O carnaval já terá passado. Os amores terão passado e a cor da pele estará também desbotada. A rotina já estará acomodada, mesmo incomodando.  Sua taxa hormonal estará nos conformes. O inferno astral terá passado e ela será mais velha. Isso tudo até que as águas de março cheguem e fechem o verão. Ou talvez o abram, afinal o tempo não é algo tão previsível assim nesses últimos tempos. Tempos em que a natureza não está feliz. // Ano de ela começar a pensar no que está acontecendo no mundo. Ano de crescer. Ano do mundo aprender. Ano do mundo se tocar.


Será que é tão necessário assim ter um ano dedicado a isso para notarem que algum detalhe está errado? 


OBS: Não que seja algo demais a temperatura do planeta subir 2º Celsius e com isso geleiras derreterem, ilhas sumirem pelo aumento do nível do mar, milhares de pessoas desabrigadas, secas em certos lugares e alagamentos em outros. Vamos ver, espécies em extinção, efeito estufa, câncer como o de pele pelos fortes raios solares sem a proteção da Terra. Falta algo? Talvez a intensificação de certos fenômenos climáticos como ilhas de calor, formação de furacões... A, esqueci de outro pequeno detalhe. Lixo em excesso, prováveis guerras. E para fechar a coletânea de detalhes: Falta de água. Pensando bem, é necessário mesmo um ano dedicado a isso.


2010 - Ano Internacional da Biodiversidade

23 de janeiro de 2010

XVIII - IMENSIDÃO


   Pessoas vazias. Olhos vazios. Corações vazios. Mentes vazias. Expressões vazias. Discursos vazios. Sentimentos vazios. Abraços e beijos vazios. Máscaras preenchidas e feitas de todo esse vazio. Máscaras que expressam felicidade contínua, inteligência avançada, amores imortais, textos e textos convincentes. Máscaras que eles, os homens, já não sabem mais como viver sem. Animais irracionais em quase todas as questões que enchem o peito ao dizer que estão no topo da cadeia alimentar. Contudo percebe-se que não conseguem ao menos proteger-se da própria natureza através de seu arsenal de dependências tecnológicas. Como seres tão dependentes podem ser superiores? Duplas personalidades. Duplos sentimentos. Duplas razões e percepções. Gostava mais deles quando acontecia ou melhor, era possível sentir realmente saudade de alguém. E as cartas eram comuns. Mais ainda quando a palavra urgente possuia um significado real, porque atualmente ela é indiferente. Tudo a nossa volta é urgente, isso quando na verdade não era pra ontem. Gostava mais quando podíamos amar. Até mesmo o mar sente falta de nossa sinceridade e de nossas reflexões com os pés molhados por suas águas. Até mesmo o mar.


Para onde foi a imensidão dos homens?


Giovanna Malavolta

XVII - FITAS


   O que ela considerava como verdadeiros presentes muitas vezes não eram percebidos pelas outras pessoas, ou considerados. Num tempo não tão tão distante ela começou a perceber que ganhara um presente. Um que talvez ou mesmo provavelmente levaria consigo por toda vida. Um que os amigos que diziam para ela testar e o chamavam de dom. Um que ela admirava naquelas pilhas de livros em que ia para diferentes mundos e sensações. Mas ela possuia receio... E se não gostasse do que fizesse? E pior, se os decepcionasse? Ela não conhecia algo sobre o assunto e também não era algo que pudesse aprender em algum curso. Começou então a colocá-lo em prática, e os poucos, na verdade três, que nesse início tiveram contato com o presente elogiaram. Começou a perceber que era como um jogo, praticando ela se aperfeiçoaria. E então ela foi ganhando mais e mais presentes. Presentes que juntos formavam uma palavra: incentivo. Mal sabiam eles que ela sentia um frio na barriga a cada novo elogio, a cada nova crítica, boa ou ruim, que chegava a transpirar por saber que alguém agora lia seus textos. Ela foi perdendo o medo de se expressar através das letras. Foi deixando que as palavras fluíssem pelo papel sem se preocupar demais. Passou a acreditar em si mesma, porém isso não era um sinônimo de que já aprendera tudo. E os presentes foram se multiplicando, e as fitas dos embrulhos também. Ela guardava as fitas que envolviam todos aqueles presentes em forma de palavras. Ela envolvia e decorava seus textos com elas. Fitas que não eram feitas de pano, mas de amizade e cooperação. Fitas que ela transformava em palavras. Fitas que estavam presentes nas entrelinhas e só eram percebidas por aqueles que um dia as deram de presente para Ela. Fitas que ela guardaria para sempre


Giovanna Malavolta