6 de setembro de 2010

I - JOVEM

"Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você. . . "
   Ela pensava, rascunhava e escrevia. Tentava de todas as maneiras compreender o que era a juventude e o que fazia com a dela. Nunca tivera muitos problemas com tal questão, afinal era feliz, uma garota "de sorte". Mas, ultimamente, algumas coisas incomodavam mais do que antes, e preocupavam mais do que antes. Sempre ouvira dizer, quando criança, que a juventude era o futuro do mundo. Entretanto, agora ela era um pedacinho dessa juventude. E a pergunta rondava, qual futuro? Às vezes ela também questionava se os adultos de hoje já se esqueceram da juventude deles de antes. Pareciam tão indiferentes e irrelevantes aos gritos dos jovens que, sinceramente, ela apostava suas cartas de que nada se se lembravam. E essa tal de teenage assombrava... Eleições, com candidatos cada vez piores, mas para onde foi a juventude destes? Vestibulares, com as expectativas de todos os pais cujos filhos são melhores de todos os outros. Mas se alguns são reprovados, não são todos tão bons assim. Profissões daqueles que mal sabem fazer miojo e já possuem todos os planos de assim que entrarem na faculdade serão auto-suficientes. Amizades, em que às vezes nota-se que tudo não passa de uma superficialidade e aqueles que você realmente quer por perto simplesmente estão sempre fora do seu alcance. E isso a incomodava mais ainda, por saber que uma de suas melhores amigas mora em outro continente, fala outra língua, vive em uma outra cultura, mas conseguia a entender como ninguém. E aqui, em sua própria casa, ninguém conseguia se comparar. Religião, em que às vezes por trás de tanta corrupção fica difícil até mesmo de enxergar a fé. Crimes, violência e falta de caráter eram coisas tão abstratas que ela possuía dificuldade para entender. Simplesmente acreditava que aqueles que matam não podem ser humanos. Contudo ela se lembrava da ideia de uma frase que lera em algum lugar a muito tempo atrás... Dizia que o homem estava desaprendendo a ser humano. E outra dúvida surgiu, o que é ser humano? O ser em sua essência. O ser em seu real valor. E por fim, o amor. A juventude não possuía claramente os valores para um relacionamento nessa fase. O certo seriam relacionamentos duradouros e firmes? Ou uma época para experimentar coisas novas? Essa questão foi interrompida pelo toque do telefone. Talvez fosse ele. Mais uma discussão? Então isso ela discutiria numa próxima ocasião.

E ela, em sua solidão rodeada por todos, pensou consigo antes de atender ao telefone:
"E se o tempo expressa sentimentos, ultimamente, sou eu quem anda a comando dele."


Giovanna Malavolta