25 de junho de 2011

VI - RODA GIGANTE

Ela era uma garota da cidade grande, com um sotaque diferente de todos os outros a sua volta. Ele era um garoto do interior, rindo em meio do grupo de amigos e comentando sobre as garotas que passavam. Ela, ao entrar, ficou encantada com todas aquelas luzes, lembrando antigos filmes românticos, com o carrossel e as crianças a rir e todo aquele "quê" de parques de diversões de cidades pequenas. O cheiro da pipoca doce, os grupos de meninas de um lado e de meninos de outro e as trocas inocentes de olhares, a música ambiente. Tudo aquilo a fascinou. Afinal, a única coisa que ela estava acostumada a ver em seu cotidiano era cinza, luzes apenas nos faróis dos carros em congestionamentos e sons de buzinas. Fascinada, esse era o adjetivo. A simplicidade sempre a conquistou de uma maneira inexplicável. Para ele, o adjetivo era entediado. Resolveu ir na fila para comprar ingressos para os brinquedos, não tinha mais nada o que fazer. Reparou na menina a sua frente, vestida de um jeito meio diferente das outras e com um perfume que ele sentiu de longe. Resolveu chegar um pouco mais perto para ver se era dela mesmo. Até que ela, de repente, virou-se, distraída, e encontraram-se de frente. Desculpa, disse assustada, deixando um dos ingressos cair no chão. Nada, ele respondeu. E eles encontraram-se de novo no chão ao irem, ao mesmo tempo, recolher o bilhete caído. Ele se desequilibrou e caiu para trás, ela não aguentou e riu. Levantou e estendeu a mão, para ajudá-lo a levantar. E ele, sem jeito, mal sabia o que fazer. Obrigado, disse limpando a calça suja. Ela virou-se para ir embora e ele não resistiu: Quer dar uma volta? Ela, ainda de costas, sorriu. Sim. Ele comprou a pipoca e ela o refrigerante. Conversaram a noite toda, foram em todos os brinquedos, até sobrar apenas a roda gigante. Vamos? Sim. Lá em cima, as mãos encontraram-se e ela deitou em seu ombro no silêncio. A música da cabine deixou uma sensação nostálgica dentro dela. Ele se aproximou. E ela se afastou, com um sorriso meio sem jeito, dizendo: Me desculpe, mas nessa música não.

Giovanna Malavolta

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