9 de junho de 2011

II - CHUVA

Ela estava cansada de quebrar promessas. Promessas feitas para si mesma. Promessas de ser superior e não se deixar abalar nunca. (Nunca é tempo demais.) Promessas de ser sempre a mais forte para estar lá quando todos precisassem. Para ser o ombro amigo, sempre com palavras doces e uma compreensão invejável. Promessas em que as pessoas a admiravam dizendo: Você é mesmo centrada, queria ser como você. Centrada? Um estereótipo admirável, uma mentira discreta. Promessas que as pessoas de fora acreditavam estarem sendo cumpridas. Indiferença, o oposto do amor? No começo pareceu fácil, quase que um dom. Ela não era de ficar triste, com ela não tinha tempo ruim. Quase se convencera de estar bem. Mas e esse aperto no peito? Uma saudade reprimida. Uma coisa que ficou daquilo que não ficou. Os sonhos, tão comuns, transformaram-se em pesadelos. Já cansada de todos os dias ter o mesmo sonho, com as mesmas más recordações, com as mesmas meias verdades; com os mesmos rostos que a assombravam; questionou: onde ela errara? No momento em que se deixou acreditar? Ou no momento que resolveu ignorar o passado e viver o presente? No momento que voltou a, por um instante, acreditar no amor. Um sentimento não muito seu fã. Estava chovendo, mas lá fora fazia sol com um belo céu azul. A luz parecia não conseguir entrar pela janela. Estava tudo tão escuro, naquele momento em que ela se pegou quebrando mais uma promessa. Quando as gotas salgadas chegaram em seus lábios, fechou os olhos e apertou suas mãos encostadas na testa. E um frio gélido arrepiou sua espinha. A chuva estava dentro de seu quarto, dentro de seus pensamentos. Dentro de seu coração. 

Giovanna Malavolta

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