Eu sou o poeta e não aprendi a amar . ? . *
* Malandragem - Cássia Eller
Ela estava ali, a contar as gotas de orvalho. O vento praticamente sussurrava ao pé de seu ouvido uma simples canção de inverno. Os delicados raios de sol iluminavam sua pele, mas ela não sabia ao certo se eles, por nunca a verem assim, estavam receosos e com medo de tocá-la ou se o frio estava realmente impedindo-os de aquecê-la. O cheiro da terra molhada, por lembrá-la de sua infância na casa de campo, a confortava. O silêncio a fazia ouvir perfeitamente bem seus pensamentos, mas escutá-los incomodava um pouco, mesmo ela sendo uma amante de transformações. Ela era visionária e tinha plena consciência disso. Sabia que tudo iria mudar, e até apostava em mais ou menos em quando. O problema é: como lidar com as mudanças quando elas chegassem. Sentada, com as mãos cruzadas acima dos joelhos e gelada. Fria. Sozinha. Nem tristeza, nem felicidade. Nada. Vazio. Aparentemente, até as emoções deixaram-na para que pudesse refletir. Perdida em seus vícios, tentando se encontrar em suas virtudes. Qualquer simples ação que a fizesse parar de pensar era bem vinda em seus pensamentos. O que tinha feito de errado? Esse era o principal questionamento. Mas teria ela feito alguma coisa? Ou talvez, quem sabe, deixado de fazer? A cada nova tentativa de encontrar respostas, as perguntas multiplicavam-se diante de seus olhos de ressaca. Uma menina oblíqua e dissimulada? Ou talvez uma pobre garota que não conhece a verdade? Quase uma mulher. Se a fosse comparar com um momento do dia, diria que ela está entre o crepúsculo ou o amanhecer. Instantes de transição, explicitando sua inconstância. A noite começou a chegar e as estrelas a brilharem graças à ausência da luz que ofusca sua beleza. É no escuro que realmente conseguimos ver. É nele onde o que realmente importa não desaparece. Todo o resto supérfluo depende de outras fontes para iluminar, refletem luz. A simplicidade não, ela tem brilho próprio. É como observar um céu azul marinho. A cada estrela avistada, mais algumas ao redor surgem, até que você percebe como o céu está recheado de pequenos pontos de paz. Até que ela percebe que sua vida está recheada de gestos simples que são capazes de iluminar o seu caminho e talvez não responder suas perguntas, mas ajudar a encontrar as soluções. Luzes que não a deixarão no escuro. Luzes chamadas, popularmente, de amigos. Luzes chamadas, particularmente, de pontos de paz. Luzes, que se depender dela, nunca se apagarão.
Giovanna Malavolta
Giovanna Malavolta
* Malandragem - Cássia Eller
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