VI - SER
"É tão difícil sentir medo. É tão difícil não sentir a verdade. É tão difícil não querer sentir." - Pensou ela. Demorou tanto tempo para encontrar seu equilíbrio, seu foco, seus objetivos. Planejou e decidiu. Tudo estava tão claro... Ela resolvera ficar sozinha algumas noites, apenas para tomar um pouco de fôlego. Quando ela voltasse poderia se apaixonar de novo. Teria, então, praticamente um ano de férias do amor, por enquanto, e já que só acontecera uma vez, a próxima ainda demoraria. "Melhor assim." - Refletiu. Os planos estavam certos e ela estava lidando muito bem com seus sentimentos, por mais que no fundo ainda tentasse sentir, nada acontecia. A situação estava confortável e sob controle. Ela estava satisfeita consigo mesma, orgulhosa. O segredo era manter a distância de qualquer relação que começasse a cross the line. Pronto, tudo resolvido. Então ele sorriu. Num piscar de olhos destruiu a obra de noites e noites mal dormidas. Num piscar de olhos destrancou o coração dela. Entrou sem pedir licença e se sentiu em casa como se já a conhecesse melhor do que ninguém. No começo, ela suspeitou que isso acontecera porque, uma vez, ele já havia estado nas redondezas de sua mente. Ele iria embora, as soon as possible. Mas ela não acreditava nessas coisas. Coincidências? Imaginação. Contudo, não era, simplesmente, possível. Em seu cotidiano, sinais demais, em sua mente, vozes demais, em seu coração, sentimentos demais. Ela pegou-se pensando nele. Dia após dia, a frequência fora aumentando. Até chegar no momento em que ela encontrou-se no estágio de pensar somente nele. Isso era um mal sinal, um péssimo sinal. Independente, indiferente, inalcançável. Esse era o perfil dela. Mas, em meio dos braços dele o ar faltava, as pernas tremiam e um frio na barriga surgia. Todos diziam: "Nunca te vi sorrir assim.". Ela só queria viver um dia de cada vez na presença dele. Ela não queria pensar em futuro, somente aproveitar o momento. Ela só queria não vê-lo ir embora. Ela só queria, olhando em seus olhos, dizer: "Eu amo você." O detalhe é que em seu vocabulário essa frase é muito rara. Mas sim, ela amava. O que fazer? Ao confessar com seus amigos, eles retrucavam: "Pare de pensar nisso, continue fazendo o que você está fazendo, esse seu Carpe Diem e tudo vai dar certo." Fácil falar. As pessoas lidam bem com a dor, quando não é a delas. Ela estava feliz, mais do que poderia imaginar conseguir. Ela notou que existiam algumas opções: ele lê mentes, ele tem um informante sobre seus gostos preferidos, ele comprou seu manual de instruções em alguma livraria mágica em alguma esquina perdida... Ou era Ele. E esse verbo ser era o motivo de suas preocupações. Resolveu parar de pensar e seguir os conselhos, quem sabe desse certo. Ela, por si só, não tinha nenhuma solução.
Giovanna Malavolta
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