16 de maio de 2011

VII - A OUTRA

Ela sentou na areia úmida, deixando para trás suas pegadas. Elas que rapidamente seriam apagadas pelo mar... Da mesma forma que as ondas fariam esses serviço, aquela também faria: apagaria a imagem dela da mente dele. A outra. Desenhou as iniciais que um dia pareceram tão reais. Que um dia em seus sonhos foram unidas por um coração e hoje cumprimentam-se como estranhas. As inicias que não foram feitas uma para a outra. Como ele pôde mentir tão bem? Encenar risos, beijos e a abraços e agora ir embora. Simplesmente fechar a porta sem ao menos olhar para trás. Como? Ela descobriu que os beijos não foram contratos e os presentes não representaram promessas. * Ela tinha as chaves do cofre, aquela, as do coração. Ela, ali, com o nascer do sol, o vento fresco e a água, ainda gelada, banhando seus pés, pensando. E agora? "Ele foi embora, conforme-se!" - Irritou-se seu grilo falante, conhecido também como consciência. Eu sei.- Admitindo inconformada. A outra. Agora aquela terá tudo o que ela deixou escapar. O que, na verdade, nunca foi realmente dela. O mar veio, deixando na areia  apenas a inicial de seu próprio nome. Ao olhar para aquele novo espaço vazio, refletiu. Olhou para o caminho de onde veio, suas pegadas já não estavam mais lá. Levantou e resolveu voltar pelo outro lado, seguindo o sol. Traçar uma nova trilha em busca de um lugar quente, em meio aos braços daquele que preencheria o vazio. A procura do outro.

Giovanna Malavolta


* Parafraseando William Shakespeare - Um dia você aprende

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