10 de fevereiro de 2010

II - CONTRADIÇÕES


   Ela não sabia onde. Ela não sabia como. Ela não sabia porquê. Ela nunca fez parte de um conto de fadas em que acreditasse. Mas os fazia acreditar. Ou melhor, eles acreditavam porque queriam. Porque "achavam". Ela nunca possuiu a chave para entrar naquele castelo. Nunca soube qual estrada pegar para chegar até ele. Entretanto, os outros afirmavam que lá era sua casa. Que a janela mais alta era a sua vista para o pôr-do-sol e seu despertar pelo amanhecer.. Que todos aqueles tijolos demonstravam sua força interior por trás de toda sua delicadeza ao falar, esclarecida nos detalhes das portas decoradas em ouro. Sua varinha não possuía uma real magia, um encanto que se pudesse pegar nas mãos. Apesar de jurarem que ela transformava as coisas e mais notável do que tal ação, as pessoas. Porém, se num dia distante ela chegou a usar essa fascinação, não possuía ideia de como. Ela não usava um vestido de princesa lilás ou mesmo uma coroa. Contudo, era assim que todos a enxergavam. E era por isso que os rapazes retiravam seus, finos ou não, chapéus ao verem Ela passar. E como resposta,  Ela fazia o que mais gostava, sorria. Ela também desfrutava do medo do escuro e de outros tantos medos. Todavia, diziam que Ela não sabia o que eram receios, pois emanava uma luz. Isso com certeza a protegia de tudo e a livraria da escuridão. "Ela? Uma verdadeira princesa aos dezesseis. Tão corajosa e bondosa. Simplesmente uma moça que pode ter sua cabeça nas nuvens mas sem tirar seus pés do chão. Tão humana." Enganados tantas e tantas vezes. Ela era simplesmente um alguém escondido atrás de uma pintura. Como todos os outros. De uma tela com a mistura de cores como maduridade, força, racionalidade, bondade, certezas e esperança. Um espelho para muitas meninas que ainda vivam em seus mundos cor-de-rosa repletos de sonhos. Esperança, este era o único fator que inteiramente fazia parte de seu interior e exterior. Já em questão dos outros, ela também tinha seus contra pesos. Ela também sofria de momentos repletos de infantilidade, momentos de medo, sentimentalismo, raiva. Momentos de incertezas. No entanto, enquanto ela conseguisse pintar a paz nos muros da cidade, ela estaria satisfeita. Enquanto ela ainda conseguisse compreender a todos e mostrar amor à vida. Enquanto ela conseguisse ser realmente e interiormente humana. Enquanto ela não precisasse dizer adeus. Se fosse para espalhar o bem ela continuaria satisfeita. Satisfeita com a imagem que possuíam dela. Mesmo sabendo que sua vida era normal, seu castelo resumia-se a seu caderno, que sua varinha era seu lápis, seu vestido e sua coroa: as fitas. O medo eram os borrões e rabiscos que ela tanto detestava ao escrever, não gostava de errar. Bem, apesar disso, ela permanecia satisfeita. E talvez até vivesse mesmo num mundo só seu, num mundo quem sabe, imaginário entre as linhas.


Giovanna Malavolta

Um comentário:

  1. Quem diria, aquela garota que um dia se achava um Alien, hoje se sente tão próxima dos humanos, mesmo ela sendo assim tão diferente, na verdade especial, ela consegue com tal simplicidade se tornar tão magnífica no que faz.
    s2

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