4 de julho de 2012

- Paz .


Ela não costumava ser tão sensível assim. Sempre andou com o olhar na altura do horizonte, nunca para baixo, com segurança e firmeza pensando que antes se pisa o calcanhar e que um andar consciente te impõe. Tantos anos de teatro... Aprendeu jeitos de saber se as pessoas estavam mentindo e jeitos de mentir. Tão úteis esses jeitos. Ela era toda assim, ela. Singular, com alegria nos olhos. Era isso o que diziam. As malas prontas, passagens nas mãos e um embarque. O corredor de hotel, um deque e olhares sinceros regados de promessas incertas. Foi essa ordem, ou algo muito parecido com isso, que mudou aquela menina. Ela foi e quis ficar, mas como quando o coração é quem diz que algo ficou pra trás? É aquele aperto que não deixa dormir e que conta as horas pra voltar. Ela procurou o sorriso dele em tantos rostos, na improvável esperança de conseguir motivos pra ficar. Falhou. Uma bandeira assinada, um até logo na porta de embarque e horas e horas a fio num avião a pensar que diabos ela estava a fazer ali. Surpresa. As flores, ah, as flores eram lindas, mas nada que se comparasse ao sorriso dele. Ela sabia que ela pra ela, por ela. Assim, é, desse jeitinho mesmo tudo pareceu valer. Estranho esse amor, né? Os dias passaram, a saudade não, e outra começou a surgir. Coisas demais, rápidas demais e ela com medo por simplesmente não saber a direção para qual tudo se encaminhava, ou talvez saber e questionar se era essa a que ela queria. O choro subia, ela engolia a seco. Às vezes caía, mas não durava mais que poucos minutos, afinal, ela nunca se permitiu chorar, realista, sabe como é. Resolveu tirar aquelas mensagens da parede, chega. Ruínas são a estrada da transformação, disse uma de suas escritoras preferidas, Elizabeth Gilbert. É, bem mamão com açúcar mesmo, mas ela gostava. E quando ele tocava nela, liberdade. Com ele, ela não conseguia mentir, a cor dos olhos dele. Ela amava a cor dos olhos dele. Ela se sentia em casa, então estava no lugar certo, certo? Ou não. Ou sim. Isso tirava suas noites de sono. Até que um dia, numa outra praça, ela confessou que queria sair dali. O coração dela sorriu como nunca antes ao ouvir a simples resposta. Paz era algo que ela sentiu naquele momento, com os olhos fechados e uma voz tão doce. Eles não eram Romeu e Julieta em versos e declarações de amor, então contente-se com o que virá. Tenha certeza que é tão lindo quanto um: Ah doce Romeu... Isso é clichê, batido demais. Ele, sutilmente sussurrou de volta: Calma linda, a gente vai dar um jeito nisso. Lembrando desse e de um outro sussurro durante um daqueles seus devaneios ela apagou a luz, puxou a coberta e dormiu sorrindo. Dúvidas ela já não tinha mais, sabia o quão arriscado era se sentir segura, mas paciência era em tudo o que ela apostava e amor, o que estava disposta a dar. 

Giovanna Malavolta

4 de abril de 2012

talk.


- Do you have a boyfriend?
- No.
- Do you want to have some coffee with me someday?
- Well, I don’t think it’s a good idea.
- Why? You told me you don’t date anyone, didn’t you?
- Yes.
- So?
- It’s complicated... I left someone in my country.
- Ok, but now you’re here, in Canada, let’s enjoy!
- What do you mean when you say enjoy?
- Sweet, there’s another life just waiting for you outside, you should take this oportunity.
- First of all, don’t call me sweet. Sencond thing: making yourself believe you’re taking a second life here it’s just acceptable if you have totally idea that everything that beggins has to end one day.
- You got a point, Miss. However, don’t you know that maybe he’s not waiting for you?
- I don’t care. Have you ever loved someone?
- Yes, but here is not a place to love someone.
- I didn’t know that we could choose it! Such a big surprise. Could you teach me that?
- You’re small and stubborn.
- Thanks.
.
.
.
- He’s a lucky guy.
- I really love him.
- Yeah, I know what you mean.
- No, you don’t.

And suddenly, just like that, she realised the value of what she had said.

Giovanna Malavolta

1 de abril de 2012

A primeira vez .

Eu nunca me vi esperando por alguém ou pensando em um futuro com algo a mais do que minha personalidade errante, minha individualidade orgulhosa e meus planos egoístas. Sempre imaginei que o amor fosse um conto de fadas, uma criação das pessoas para simplesmente se fazerem um pouco mais felizes apoianhando-se em outras por não conseguirem isso sozinhas. Uma grande perda de tempo, não? Mais ou menos como diria Cazuza: “O nosso amor a gente inventa pra se distrair, e quando acaba a gente pensa: ele nunca existiu.” Mas, de uns tempos pra cá, uma cachoeira de sentimentos desabou dentro de mim. Me peguei discordando de minhas certezas e minhas previsões sempre tão certas de si. Me peguei pensando em você. Pensando em uma palavra que me apavora, ou costumava fazer isso, (nós). Sabe, não sei viver pela metade. Eu nunca soube e não seria agora que isso iria acontecer... Meia felicidade, meia tristeza, nada que não seja completo me satisfaz. Então, não existe meio amor, se é que ele existe. Mas eu não tenho certezas, a racionalidade nessa história foi embora há algum tempo já. Tenho sentimentos. (Acredite, eu não consigo me ver dizendo coisas assim.) São eles o suficiente pra você? Hoje não posso te oferecer muito mais do que solidão e um sorriso distante, mas amanhã, ah se eu puder voltar para você amanhã garoto, eu faria tudo o que eu gostaria que fizessem por mim. Você invade todos os lugares aonde vou, e todos os pensamentos. As músicas de amor, tristes ou felizes, as de saudade, meus planos, minhas ações, minhas noites de sono. Um motivo para eu ser uma pessoa melhor sem ao menos perceber isso. Uma vontade incontrolável de acordar com você se mexendo na cama e de usar as suas roupas pra dormir. Roubar sua camisa preferida e ser sua inspiração. Andar de mãos dadas. E saber os seus detalhes, todos eles. Coisas que eu sinto por você. E uma saudade, ah, nela nem vou tocar . . .

Mas, me diz, é isso o que chamam de amor? 

Giovanna Malavolta 

15 de março de 2012

You'll know it when you feel it .

Estava um dia agradavelmente frio, ela resolveu sair para colocar as ideias no lugar. Existiam coisas demais dentro dela, sentimentos demais, medos demais. Estava sozinha, como em boa parte do tempo, e foi até o cais da cidade. Deitou na grama, colocou seus fones de ouvido e olhou pro céu. Ele não estava nem azul, nem cinza, meio que um meio termo. E, de repente, uma lágrima caiu. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo e, pela primeira vez na vida, aceitou o choro. Fechou os olhos molhados, e lembrou dos tantos sorrisos que já não via há tempos. Sentiu os abraços, ouviu as risadas, lembrou-se do gosto do beijo dele. Sentiu uma coisa que ela não sabia explicar, uma coisa que ela antes dizia não sentir. Saudade. Mas que sentimento mais estranho, não? Um tanto quanto curioso também. Mas a imagem dele ficou mais forte que a dos outros, e ela percebeu que ali aparecia mais um sentimento ainda não catalogado em sua lista: o amor. Seria isso mesmo? Ou estava ela só confundindo tudo como costumava fazer? Tirou a foto que carregava na carteira e passou o dedo lentamente sobre o sorriso dele, e pareceu sentí-lo ali, por uma fração de segundos. Isso estava tão errado de seu ponto de vista, não deveria acontecer assim. Ela não podia ter feito o que fez, ter dito o que disse. Mas nunca antes tinha sido tão verdadeira. Estava certa em mostrá-lo que seu coração estava totalmente em suas mãos? Estando tão longe, distante e ausente? Quem sabe? Ela estava sentindo uma coisa tão diferente. Uma coisa que não existe. Mas que um dia ela ouviu falar que só saberia quando sentisse. Talvez estivessem certos e não fosse só fantasia. Ela notou que existem certezas que não se conhece a origem, elas só estão lá. Nesse mesmo dia, na hora do almoço ela comeu em um restaurante chinês e ganhou um biscoito da sorte e ao quebrá-lo estava escrito: Don’t be afraid of fear. Abrindo a carteira novamente pra guardar foto, deixou aquela mensagem cair. Então ela resolveu mandar o texto feito, temperado com água salgada do mar e de lágrimas. E, talvez, com uma pitada amor. 

Giovanna Malavolta