1 de outubro de 2011

Pessoas sob medida .

     Gritos e disparos, agitação e sangue, lágrimas e silêncio. Assim se caracteriza o Tratamento Ludovico, abordado no filme "Laranja Mecânica", para consertar mentes deturpadas de acordo com conceitos éticos visando o bem-estar social. Apresenta-se, para os defensores dos direitos humanos, como um abuso, para os conservadores, como uma salvação. Até onde o poder do Estado deve ir entre a individualidade e a proteção de um todo?
     A reintegração social de delinquentes é uma meta ambiciosa para sociólogos e psicólogos. Baseando-se em teorias defensoras de um Estado Constrangedor, como as de Thomas Hobbes, nota-se a criação e tal método sendo uma oportunidade para a inserção do condicionamento clássico na sociedade. Contudo, princípios absolutistas foram derrubados há mais de um século e o Leviatã é visto como algo fora da realidade contemporânea.
     Já ao ver de Emile Durkheim, o fato social molda as pessoas e determina os conceitos que por elas serão absorvidos e praticados. Caso os avanços da medicina na área cerebral sejam eficientes, o poder do Estado poderá desvincular-se de apenas consertos e usufruir de tais técnicas para ditar comportamentos e criar moldes culturais. Dentro de um cenário como esse, a palavra liberdade é banida do vocabulário e a individualidade se esvai. Rasgar o véu tornaria-se apenas uma lenda, uma história sussurrada pelos mais velhos e abstrata para os jovens. 
     Observa-se também o fato de que, por enquanto, os experimentos feitos em jovens assassinos propões a ausência de um futuro violento. Não deveria, o governo, ao invés disso, evitar um presente violento? Programas sociais e auxílio a famílias dilaceradas mostram-se mais plausíveis do que seres humanos sendo usados como ratos de laboratório.
     Investimentos em topos de pirâmides são úteis, entretanto não resolvem problemas de base. Controlar a mente do homem não é algo natural e fácil de ser aceito. Utilizar-se do princípio de que os fins justificam os meios é abrir uma porta a um caminho onde, pouco a pouco, cairíamos em uma realidade de um admirável mundo novo, onde a ridicularização da lobotomia seria uma hipocrisia. 

Giovanna Malavolta,
dissertando.

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