A preferência por olhos claros sempre fora uma característica forte nela. Verdes lindos, mas ainda assim, se pudesse escolher, escolheria os azuis. Lembravam-na do mar e do céu, tão infinitos quanto seus sonhos. Não que desprezasse os outros, era mesmo somente uma questão de preferência. Mas uns escuros chamaram sua atenção. Não sua coloração, mas sim seu modo de ver. Eles conseguiam ver o que tinha dentro dela. Eles a encontravam numa multidão, no escuro, nos sonhos. Então ela percebeu uma coisa tão sutil quanto um piscar de olhos. Tudo mudara: o modo de respirar, de sentir, de ver. O batimento acelerou, as mãos cruzaram-se atrás do pescoço e os corpos se aproximaram e as borboletas surgiram. Ela mudara uma opinião de anos naquele simples beijo. Porque a cor dos olhos é totalmente indiferente quando eles se fecham e as cabeças se aproximam. E nesse momento, só alguns conseguem enxergar o que não se pode ver.
Giovanna Malavolta