24 de março de 2010

III - MELHOR*

   Sabe-se que Ela, é aquela mesma de outras tantas histórias, possuía uma melhor amiga. Meio linda, meio loira, com os olhos meio que verdes da cor do mar. E sabe-se também que ela sentia muita falta dessa garota, um tanto quanto meio louca, que há tanto tempo fazia parte de seu mundinho para raros. Que há algum tempo passava tardes e tardes inteiras dividindo todos os tipos de emoções. Emoções que às vezes nem eram delas, mas sim de suas personagens. Que há pouco tempo ela via e abraçava todos os dias. Que ela contava seus segredos e dúvidas. Que ela mais do que tudo, amava. Ela orgulhava-se de ter uma amiga tão sincera e determinada. Tão boa e sonhadora com os pés no chão. Uma amiga que parecia estar tão longe de toda aquela futilidade e infantilidades que ela presenciava. Uma amiga que ela percebia que estava-se se tornando uma grande mulher. Mas Ela teve que ir embora, mesmo com o coração apertado por deixar uma parte de si naquele lugar, que por pior que um dia poderia ter sido, ela considera o melhor do mundo. Porque nesse mesmo lugar existia uma parte livre de toda aquela hipocrisia. E ele concentrava-se nos corredores, camarins, coxias e no palco. Até mesmo nas poltronas onde elas se escondiam pra conversar. E num lugar muito alto e com muitas, muitas, muitas e muitas escadas. Mas valia a pena, afinal elas iriam se encontrar. Uma grande amizade que surgiu do nada e não terminará por coisa nenhuma. Elas sabem que estão longe, sabem que irão encontrar novas pessoas e sabem que terão novas amigas. Mas ninguém conseguirá ocupar aquele pequeno lugarzinho dentro delas. Ninguém saberá ver melhor quando a outra deseja chorar. Ela era PhD em escutar e compreender, já a outra em aconselhar e acolher. Elas eram, são e serão tipo arroz e feijão mesmo, queijo e goiabada, calda de chocolate e sorvete e todas as outras comidas gostosas que você possa imaginar que são muito boas separadas, mas juntas são SENSACIONAIS. Ela admirava muito aquela sua amiga e mesmo que se desentendessem o tempo todo, possuíssem opiniões totalmente diferentes, elas iriam compreender. Elas seriam amigas. Melhores amigas. Ela sabia que não esqueceria aquela amiga que era ‘meio’ tantas coisas. Aquela amiga que ela levaria consigo meio que pra sempre. 

Giovanna Malavolta

para D.M. (24/03/1993)

13 de março de 2010

II - RESPOSTAS SUBENTENDIDAS

   E se... 

não der certo.
você não se adaptar.
não funcionar.
você se arrepender.
não for como você imagina.
você quiser voltar.
não conseguirmos sem você.

você mudasse de ideia ?



E o velho ditado, "E se" em história, não existe. 

Giovanna Malavolta

I - DATAS


    Afinal, o que exatamente é o tempo? Tantas datas, dias, horas e horários para controlar a vida. Se pararmos para perceber são apenas números. Números, números. Como deixá-los dominar nossa própria existência? Como permitir que eles nos digam o quanto e como comer. E melhor do que isso. Bem melhor. Como aceitar a ideia de que nossos corpos agora que precisam se moldar para entrar nas roupas e não o contrário? As fitas métricas saíram das costureiras, que nem sabemos se ainda existem, e foram para as casas das sonhadoras por um físico de manequim. As réguas há tempos são utilizadas com a maior frequência possível, metros, centímetros, milímetros... E a matemática tratou de explicar as curiosidades e verdades que, num tempo não tão tão distante, eram chamadas de "vontade de Deus". Conseguiu criar polêmicas e desacordos entre religiosos e cientistas. Essa mesma matéria que consegue englobar além de números em suas infitas fórmulas letras, algo que não faz sentido, começou a ditar as regras do mundo. Começou, assim como para controlar as máquinas, instalar sistemas nas pessoas. Torná-las automáticas. Taxas, contas ao fim do mês, salários, orçamentos, tempo de espera, urgências. E começou a sistematizá-las através de suas letras. Sempre os mesmos discursos, declarações, desculpas. Os números tomaram conta do mundo. E seu desenvolvimento tecnológico agora domina aqueles que os dominavam.


E como a banda "Engenheiros do Hawaii" diria, "E eu, o que faço com esses números?"


Giovanna Malavolta