5 de janeiro de 2011

II - BOLHAS


  Ela estava ali, sentada. Numa ponte qualquer não dando a lugar algum no meio do mar. Quem sabe há muitos anos atrás fora uma passagem ativa. Quem sabe, abrigara beijos de despedida recheados com lágrimas merecidas. Quem sabe, acolhera sorrisos e abraços de chegada. Contudo, naquele instante, restavam apenas tiras de madeira contorcidas, rasgadas e barulhentas por meio da água, através do tempo. 


Giovanna Malavolta

I - SENTIDOS


Seus sentidos confundiam-se diante de tanta beleza. Repentinamente ela conseguia sentir as carícias do mar, o cheiro do céu azul, o gosto da luz do sol, o som do vento. Como se, por um breve momento, cores transmitissem sabores, e texturas, cheiros suaves. Algum tipo de sinestesia inexplicavelmente deliciosa. E dentro da mente, num lapso, apenas lembranças boas eram recordadas e a saudade batia forte. Como ela gostaria de poder dividir tudo aquilo com todos que amava, mas estava só. Lembrava-se daqueles que conhecia desde a infância ou mesmo desde que se conhecia como pessoa; daqueles que conhecera em lugares muito longe de sua casa e nem mesmo falavam sua língua  e gostaria de levá-los consigo na bagagem... Sentiu uma vontade incontrolável de chorar, repentinamente.  Como ela gostaria de poder segurar a mão dele e dizer tudo o que estava a sentir. Olhar em seus olhos e admitir que ele fora a melhor coisa que acontecera na vida dela. Dizer baixinho tudo o que ela sempre tivera vergonha de dizer... Iniciou um ensaio baixinho, fazendo jus a seus dezesseis anos e sua fase de adolescência em crise... “Sabe amor, eu amo você”. Mas isso era comum, e quem a conhecera possuía a sombra de certeza que ela, normalmente, fugia a todas as regras e excessões. Tudo bem, iria recomeçar. "Eu não sei dizer o que quer dizer o que vou dizer.. Eu amo você, mas não sei o que isso quer dizer.." Confuso e plagiado. Hum, ainda não estava bom. 



" . . . " - Perfeito!, exclamou.


Agora estava um pouco mais parecido com Ela. Ele sabia que palavras ditas nunca foram seu forte, a liberdade para ela estava presente nas palavras escritas. O silêncio acompanharia o olhar e ela possuía certeza de que ele entenderia tudo. Mesmo que tudo não fosse completamente o suficiente.  
Giovanna Malavolta